Atenção! Esse é um texto com alto teor de ciência e pitadas ácidas de realismo (também conhecida como pessimismo). Se você é negacionista ou curte um otimismo tóxico, sugiro que nem comece a ler os parágrafos que vêm a seguir.
Ondas de calor nunca antes registradas, derretimentos de geleiras nos polos e nas montanhas, desmatamento acelerado, incêndios, chuvas torrenciais, alagamentos, secas são os exemplos mais clássicos de alterações no funcionamento climático do planeta.
Essas alterações possuem um culpado em comum: o ser humano.
A ação do ser humano sobre o clima do planeta foi batizada por cientistas como antropoceno.
Falando de maneira simplória, o antropoceno nada mais é do que uma “nova” era geológica que foi moldada pela humanidade.
Essa hipótese científica é baseada na suposição de que o clima, biodiversidade, fauna, flora, oceanos, ou seja, o próprio planeta em si, junto com os seres humanos se tornaram uma coisa só.
E como o ser humano tem boa predisposição para estragar tudo, é o que vem acontecendo.
Diante de todas as coisas ruins que vêm ocorrendo (e ainda irão acontecer), existem grupos de pessoas que têm como objetivo salvar o mundo.
Esses grupos são os mais variados - ambientalistas, minimalistas, veganos, enfim. Independentemente do nome uma coisa é clara, essa é uma batalha perdida.
Nossa geração vai sentir apenas os primeiros impactos das ações desastrosas, quem vai sofrer mesmo, são, provavelmente, as próximas duas gerações.
E por mais boa vontade que exista em salvar o planeta ela não vai ser suficiente.
(Se você estiver disposto) Te mostro o motivo disso no decorrer do nosso texto, através de alguns tópicos que eu levantei depois de leitura e estudos. Confira!
Utilização de tecnologias que proporcionam qualidade de vida
Adolescentes e jovens adultos têm culpado sua geração anterior (provavelmente a minha), por terem acabado com o mundo em si.
Ok, isso pode ser verdade, mas embora essa crítica seja feita, ela é um tanto quanto infundada, afinal, se continua a usar tecnologias que agridem o planeta em prol do bem-estar e qualidade.
Por que nunca vivemos tanto quanto os dias atuais? Devido ao avanço da medicina e da evolução de políticas públicas de saúde, como saneamento básico, por exemplo. Isso é tecnologia (embora muitos não enxerguem como tal).
Falemos de tecnologias em prol do bem-estar então.
Geladeiras em casa, ar-condicionado, satélites, internet, celulares e outros gadgets eletrônicos com prazo de validade cada vez mais curto para forçar trocas em intervalos de tempo pouco inteligentes.
Tudo isso causa impactos ao planeta.
A turma que culpa seus pais, tios e avós por acabarem com o planeta, além de críticas, continuam a fazer uso desses recursos que acabei de citar (além de muitos outros).
A hipocrisia mandou um abraço!
Emissão e pegada de carbono
O planeta está cheio de gás carbônico, que aquece a nossa atmosfera e contribui para o aquecimento global. Ok, já sabemos disso.
A novidade agora: pegada de carbono neutra!
Pessoas que acreditam que vão salvar o mundo buscam agora viver de maneira a neutralizar sua pegada de carbono.
Como? Plantando árvores, indo de bicicleta ao shopping, usando “veículos elétricos” morando em locais com energia limpa.
A questão da emissão de carbono não é algo das pessoas físicas em si. Mas sim de grandes corporações.
Inclusive, há um marketing tão grande de neutralidade de carbono que as empresas já estão conseguindo jogar isso para seus consumidores.
Bancos, empresas de transporte (como companhias aéreas, por exemplo), já vendem contas e assentos “verdes”, nas quais clientes pagam a mais, por uma neutralidade ou menor redução de carbono para usar os serviços de quem polui.
Ou seja, elas estão repassando a responsabilidade delas para você, que quer salvar o mundo e paga a mais do seu bolso para isso.
Na moral: se você é desses, me poupe, se poupe (nos poupe).
Sobrecarga populacional
Outro ponto importante nessa história toda é a questão da superpopulação do nosso planeta.
Hoje há vivendo no planeta nada menos do que 8 bilhões de pessoas. É o que mostram os dados das Organizações Unidas.
Você realmente acredita que o planeta dá conta de tanta gente morando aqui? Sugando seus recursos naturais de forma literal?
Aqui é possível fazer um comparativo grotesco com locais que se tornam super populosos em situações pontuais, como é o caso de uma balada, ou então algum festival de música (inclusive, tudo hoje é motivo para festival de alguma coisa).
Quando você está em uma balada ou em um festival, como fica tudo? Apertado, quente, desconfortável, muitas vezes barulhento.
Continuemos, então… nesse aperto todo, fica fácil conseguir algo para comer? E para beber? E se for preciso usar o banheiro? Dificuldade para todos os lados.
E quando tudo acaba, o que sobra? Sujeira, lixo, desordem.
Então, pega esses conceitos e joga pro planeta.
Lotado de gente, com recursos explorados até a última gota. Não tem como dar certo. E isso nos leva ao próximo tópico.
Dia Sobrecarga da terra
Nos últimos anos, o dia da sobrecarga da terra ganhou fama.
Essa é uma data considerada simbólica, pois representa o dia no ano em que a demanda dos seres humanos por recursos naturais supera a capacidade que o planeta possui de produzir ou renovar esses mesmos recursos ao longo dos 365 dias.
Falando de maneira popular, é como se após essa data, a gente estivesse usando o cheque especial do planeta (e aqui cabe um lembrete, vamos pagar com juros. Se for os juros da economia do Brasil, então, fica pior ainda).
No ano de 2023, o dia da sobrecarga da terra caiu no dia 2 de agosto de 2023.
Se a gente arredondar, para menos, em 7 meses nós, seres humanos, considerada a espécie mais inteligente do planeta (por nós mesmos), esgotamos toda a capacidade de recursos da terra que teria que durar 12 meses.
Incrível, não?
Hoje precisaríamos praticamente de um planeta e meio para termos um equilíbrio de recursos naturais.
Apenas para efeito de curiosidade. No ano 2000, o dia da sobrecarga da terra caiu no 5 de outubro.
Isso faz com que a gente se aproxime do que cientistas chamam de pontos de inflexão.
Pontos de inflexão: estamos chegando
Existem hoje 9 elementos considerados chaves para pontos de inflexão espalhados pelo globo, que contribuem para o funcionamento do planeta, além de 7 pontos regionais que podem modificar de forma considerável a vida humana por aqui como conhecemos hoje. Ao todo então, 16 pontos.
Um estudo recente, da conceituada Revista Science mostra que o planeta está à beira de 5 pontos irreversíveis de mudanças climáticas.
Pontos de inflexão ocorrem quando sistemas são perturbados a ponto de sofrerem alterações que não são mais reversíveis. Ou seja: deixam de ser funcionais.
Aqui é possível citar uma geleira que começou a derreter e não para mais de derreter até acabar, ou uma floresta que passa a se tornar uma savana, por exemplo.
Os cinco pontos de inflexão que devem ser atingidos ainda nessa década são;
Colapso do gelo antártico;
Derretimento do gelo groenlandês;
Degelo do permafrost;
Colapso da convecção do Mar do Labrador;
Morte dos recifes de coral tropicais.
A minha geração - tenho 35 anos, já vai sentir, literalmente na pele, os efeitos dessa bagunça toda.
Tudo isso assusta? Assusta.
Podemos fazer algo sozinhos?
É claro… que não, mas tem uma galera que tenta, como vamos ver no nosso último tópico.
Mudanças de estilo de vida
Com base em tudo o que você leu até aqui (se você chegou até aqui, parabéns), é preciso citar aquela galera que acredita que vai salvar o mundo.
Mas quem é essa galera?
Faz parte dessa galera, aquelas pessoas que acreditam que podem mudar o mundo através de ações pessoais (particulares) ou em grupos (pequenos, diante de 8 bilhões de pessoas que vivem no mundo).
Não vou entrar profundamente em todos eles, mas vou citar alguns que me vêm à mente.
Pessoas que economizam água (tomando banho rápido, que fazem xixi no banho); galera que vendeu o carro e que só se locomove de bicicleta (aqui também entra quem vendeu o carro movido à gasolina, álcool, diesel para comprar um elétrico); veganos, minimalistas.
De nada adianta você tomar um banho rápido ou dar um mijão dentro do box achando que vai salvar o mundo, enquanto a média global da pegada hídrica de um quilo de carne bovina é de 15,5 mil litros de água (dados da Embrapa).
Falando de veículos agora. O pessoal da bicicleta tende a ser agressivo com quem ainda tem carro, inclusive apontado o dedo para quem fica preso em congestionamentos poluindo o planeta.
Ok, mas a partir do momento em que você deixa de andar de bicicleta em um dia chuvoso e pega um ônibus movido à diesel ou um Uber (mesmo que movido a etanol) em um grande centro como SP, você também estará poluindo o planeta.
O mesmo vale para quem troca o carro à combustão pelo elétrico. A extração de compostos naturais para produção da bateria e dos componentes do carro em si não afetam o meio ambiente?
Vamos aos veganos agora, eu como nutricionista incentivo o consumo de alimentos de origem vegetal, pela causa animal e pela saúde em si. Acredito, inclusive, ser algo nobre, ok?
Mas a questão é que uma dúzia de veganos não vão convencer pessoas culturalmente carnívoras a parar de consumir proteína animal.
Enquanto pessoas se tornam veganas com o intuito de salvar os animais e o mundo, o Brasil continua a desmatar floresta para virar pasto para gado e plantar soja para alimentar esse gado, além de exportar como matéria-prima de ração para o planeta (e não, o Agro do Brasil NÃO ALIMENTA O MUNDO).
Veja o nosso vizinho, Uruguai, onde há mais de 3 vacas por pessoa. Ou seja, é uma “batalha” desproporcional, em termos de afeto aos animais e de salvar o mundo.
Além disso, um ponto importante de se mencionar sobre o veganismo, é que ele se tornou algo com ENORME POTENCIAL DE VENDA.
Afinal, por meio dele, é possível “salvar” os animais e o planeta.
Contudo, hoje estão disponíveis no mercado produtos veganos que são ultraprocessados, cujas empresas não cuidam muito bem do meio ambiente.
Ou seja, se dá com uma mão e se tira com outra.
E por fim há os minimalistas. Pessoas que têm apenas bens materiais suficientes para uma vida simples.
Não são acumuladores, com poucos aparelhos eletrônicos em casa, parcas peças de roupas, móveis e afins, justamente para não causar impactos no planeta.
Mas ao mesmo tempo que o minimalismo cresce, sabemos que o consumismo exacerbado e desnecessário também se expande.
O minimalismo é legal por duas questões apenas: fica mais rápido arrumar e limpar a casa.
As pessoas que mudam seus hábitos de vida pensando na saúde do planeta e na sobrevivência minimamente confortável das futuras gerações, costumam afirmar que fazem um trabalho de formiguinha.
Mas, infelizmente, trata-se de um trabalho de formiguinha em um mundo regado de pesticida.
Você pode ler esse artigo e dizer: Murilo, você é um pessimista.
Não, não sou. Na verdade eu sou um realista, que é quase igual.
A grande verdade é que eu e você que está me lendo, assim como todas as outras pessoas da terra, causam um impacto negativo ao planeta e mesmo que pensemos em fazer mudanças, de pouco vai adiantar frente a uma dúzia de bilionários que comandam algumas dezenas (ou centenas) de empresas que acabam com tudo.
É triste? Sim.
E agora, depois de ter lido todo esse textão, você já não pode dizer que não sabia!
Parabéns, Murilo! Você conseguiu de forma clara, abrangente e corajosa expressar, como profissional e cidadão, o que poucos têm a coragem de assumir, aceitar e agir. Procuro, quando tenho oportunidade, e até me atrevo a apontar a falta de caráter dos que não assumem a corresponsabilidade com o que está sendo evidenciado pelas mudanças climáticas.