Como quase todo mundo, eu também tenho redes sociais e não vou mentir pra você: Eu odeio.
Não gosto, da mesma forma que nunca gostei de baladas, mas isso é assunto para outro texto (ou para terapia).
O artigo de hoje é na verdade um desabafo pessoal e talvez uma análise precipitada das pessoas de modo geral. Precipitada, afinal não sou psicólogo, psicanalista, tampouco psiquiatra.
Mas como escritor que sou, resolvi dar andamento à avaliação.
E para fazer esse balanço me baseei em comportamentos de pessoas próximas, assim como uma série de leituras e alguns estudos.
Por conta de minhas profissões, infelizmente mantenho perfis em redes sociais como forma de divulgação (orgânica) do meu trabalho.
No entanto, é impossível desviar dos clássicos cada vez mais presentes nesse tipo de ambiente.
Fotos de casais felizes; pessoas se divertindo em eventos; cliques de viagens dos sonhos; refeições suculentas e por aí vaí.
A lista é grande, assim como o vazio que a maioria dos usuários deve sentir.
Eu cheguei a ter duas contas no Instagram. Uma para uso pessoal e outra para profissional.
Desisti e acabei unindo ambas em uma só. Um erro, segundo uma série de profissionais do marketing digital.
Afinal, “você precisa ter uma rede só para falar do seu trabalho, precisa se diferenciar, mesmo que existam mais milhares de pessoas falando a mesma coisa que você”.
Cara, é cansativo, fora o fato de que demanda tempo, e às vezes dinheiro, tendo em vista que os figurões de suas áreas sempre aparecem em posts patrocinados.
Mas não vou desvirtuar. O texto aqui é para falar das redes sociais em âmbito pessoal.
Vou abordar a questão por duas vertentes específicas: a primeira de maneira voltada à saúde mental e a segunda, com base em minhas observações.
Então, vamos lá.
Como disse, as redes sociais viraram terreno fértil para postagens que, de certa forma, mostram alegria e felicidade.
Influencers que recebem uma bolada por cada foto ou vídeo postado fazem questão de ressaltar uma positividade (tóxica), assim como estilos de vida inalcançáveis.
O resultado é um tanto quanto óbvio: Centenas de milhares de pessoas que os imitam, enquanto têm sua saúde mental afetada de diversas maneiras.
É cada vez maior o número de pessoas que nunca estão satisfeitas com seus corpos; ou que acreditam que a criação dos seus filhos poderia ser melhor; que não conseguem fazer uma viagem ou então, comprar seu imóvel próprio, por exemplo (aqui dá pra perdemos as contas em exemplificações).
Sei que é óbvio, mas o óbvio também precisa ser dito: A diferença entre a felicidade real e a virtual é abismal.
Hoje, os números do Instagram (rede social que eu mais uso), ultrapassam mais de 1 bilhão de usuários ativos todos os meses.
Da mesma forma que é popular, o Instagram é considerado a rede social mais tóxica para a saúde mental de seus usuários (se bem que, desconfio que ela esteja pau a pau com o LinkedIn).
Hora de colocar um pouco de ciência no nosso texto, então.
Um estudo recente conduzido pelo departamento de Saúde Pública do Reino Unido confirmou o quão tóxica o “Insta” pode ser aos usuários.
A pesquisa científica mostrou que as principais queixas relatadas foram: ansiedade, depressão, solidão, baixa qualidade de sono, baixa autoestima e dificuldade de se relacionar com pessoas fora do ambiente digital.
Profissionais de saúde mental reforçam quão lesiva as redes podem ser à saúde mental.
A professora doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo Henriette Tognetti Penha Morato é categórica ao afirmar:
“O uso intenso de redes sociais suga os usuário e leva uma elaboração ficcional do que é real. É um processo de distorção criado para modificar a própria realidade, com a qual não se está satisfeito ou para provar algo”.
Saindo agora do âmbito de saúde mental com embasamento científico, chegamos agora à minha observação, puramente pessoal.
Eu sempre achei as redes sociais um terreno fértil para vazios existenciais que muita gente procura preencher.
Nenhum problema com isso, ok?
Acredito que todo mundo possui vazios que buscam preencher de alguma forma.
Mesmo que as redes sociais sejam uma ferramenta de trabalho para muita gente, será que realmente vale a pena ficar pendurado nelas por horas a fio?
Você precisa mostrar pra todo mundo que está viajando, que está em um show, em algum restaurante, ou se exercitando?
Se você que está lendo esse texto agora tem esse hábito, pare por um minuto e tente responder a essa pergunta: “Se você não ganha nada por seus posts, por que postar algo dessa natureza?”
Não enxergue isso como uma crítica, mas sim como algo para te fazer pensar. Sério!
Não se tira mais fotos para lembrar de algum momento, mas sim para postar.
Postar para quem? Postar porque?
Para ostentar? Para ganhar likes?
Likes fazem carinho no ego, mas apenas de maneira virtual. Tudo longe do real.
Hoje as pessoas marcam encontros em lugares bonitos, os famosos locais “instagramáveis” e já vão se encontrar com o objetivo de… postar. (bicho, que decadente tudo isso).
Encontros ou reencontros bacanas (quem ainda fala bacana?) são aqueles em que nem nos lembramos de tirar fotos.
Para mim é um absurdo dos absurdos você estar no casamento de amigos ou familiares queridos e ficar postando a noite inteira ao invés de aproveitar a festa.
Ou então ir ao show da sua banda favorita e ficar filmando o espetáculo ao contrário de sentir as músicas e criar uma lembrança para si que vai durar pelo resto da sua vida.
Li uma vez, não lembro onde de que redes sociais são perigosas, pois fazem com que as pessoas se sintam importantes, quando na verdade não são.
Em um determinado perfil de memes, me deparei com uma postagem de uma pessoa cujo objetivo de vida era passar em um concurso público, para nunca mais ter que entrar no LinkedIn ou ter perfil profissional no instagram. Simplesmente genial.
Mesmo que minhas ocupações e projetos profissionais demandem de certa forma, a necessidade de estar em redes sociais, um dos meus desejos mais íntimos é que no futuro próximo possa me ver livre desse tipo de amarra.
Em tempos de conexão ilimitada, ostentação mesmo é poder ficar offline, não precisar postar em redes sociais sobre trabalho e responder aplicativos de mensagem somente quando bem entender.
Encaminhei pra alguns.
Uau! Perfeito! Exatamente, Murilo. Você, mesmo ñ tendo formação na área, conseguiu redigir um alerta aos que usam as redes de forma tóxica.
Há uma necessidade de ser reconhecido...lacuna que tentam, de forma virtual, preencher. Permito-me sugerir que aborde,numa próxima, relações interpessoais e como intimamente e profissionalmente interferem na saúde mental.