Você certamente já notou que cresce o número de pessoas que adotam um animal de estimação e que não desejam ter filhos.
Há, inclusive, alguns ditados populares recentes que afirmam: “os bichos são os novos filhos”.
Eu concordo.
Até o Papa meteu o bedelho nessa história, chamando aqueles que optam por ter algum bichinho de estimação no lugar de filhos de egoístas (o que será que São Francisco de Assis pensou?).
Brincadeiras à parte, eu como bom ateu que sou, não liguei para a fala do pontífice.
Mas a realidade é que, sim, crianças estão cada vez mais raras e isso gera uma série de debates nos mais variados relacionamentos mundo afora.
Sociólogos, terapeutas e até mesmo epidemiologistas debatem a troca de crianças por pets.
Em alguns anos, o Brasil será o 5º país com maior número de idosos no mundo. Ao mesmo tempo, há uma desaceleração no nascimento de crianças .
O Portal de Transparência do Registro Civil mostrou que no ano de 2022 no Brasil, o número de nascimentos retrocedeu aos níveis de 1952. De acordo com os pesquisadores, isso é o início de uma nova tendência.
Goste você ou não, é fato consumado que cada vez mais, pessoas não vão querer ter filhos e a troca por animais já é uma realidade.
Depois dessa breve introdução, vou falar o que penso sobre filhos e animais de estimação e vou finalizar com a minha opinião pessoal sobre o assunto.
Sem sombra de dúvidas, existem dois pontos importantes que devem ser levados em conta quando se fala sobre escolher filhos ou animais de estimação: crise climática e economia.
A não ser que você seja negacionista, certamente já se ligou que o clima tá maluco e quem causou essa problemática toda foram os humanos (escrevi um texto interessante sobre isso, inclusive).
O fato de se colocar uma criança no mundo, envolve uma questão de responsabilidade futura.
Minha geração já sente os efeitos negativos de um clima alterado por ações humanas agora, imagine uma ou duas gerações depois de mim?
Ondas de calor, efeitos extremos, dificuldades para se obter água e alimentos são só a ponta do iceberg.
Já existem pessoas que migram porque vivem em áreas onde nada mais cresce no solo por conta de secas, altas temperaturas.
Esse fluxo migratório, devido às dificuldades, só tende a aumentar.
Ok, talvez eu não presencie essa situação com afinco, mas e um futuro filho ou neto? É preciso compreender que existe, sim, uma questão de responsabilidade para com as futuras gerações, uma vez que você reproduz.
Falando de questões econômicas, agora.
A crise climática, tem um impacto econômico na nossa economia de forma direta.
Isso sem falarmos na violência imposta pelo mercado a quem precisa trabalhar para literalmente sobreviver.
Longas jornadas de trabalho, salários que não duram o mês inteiro são cada vez mais comuns na rotina de muita gente (e eu me incluo nisso).
Criança precisa se alimentar, precisa se vestir, precisa estudar, precisa se divertir e olha só, tudo isso custa dinheiro.
Ah, mas um cachorro também custa, você pode argumentar.
Sim, custa, mas daqui a pouco falo dos bichinhos.
Colocados os pontos de vista que considero mais importantes, há outras questões sobre crianças que merecem atenção.
Criança chora, fica doente, precisa de atenção, carinho e dedicação em termos de serem educadas.
A partir do momento em que uma criança nasce, dificilmente os pais terão uma noite de sono completa nos próximos três anos.
Isso sem falar na preocupação e bem-estar com a criança que vai crescer, vai virar adolescente rebelde até enfim conseguir uma certa liberdade financeira para criar asas e voar.
Planos e sonhos são deixados de lado em prol de dar o melhor para a criança.
Natural e legítimo, ok? Nada contra isso, mas é importante estar ciente disso antes de colocar um novo serzinho no mundo.
Um ponto importante sobre crianças é que elas não têm o dever de no futuro serem cuidadoras, fazer companhia ou seguir carreiras que seus pais acreditam que deviam ter seguido.
Falando de forma resumida, ter filhos não é barato, mexe com sua rotina, faz com que você precise alterar planos pessoais, pode atrapalhar carreira (principalmente de quem é workaholic), impacta na vida sexual, sem contar a dependência emocional e financeira.
Poderia ainda falar sobre a pressão da sociedade sobre filhos, as quais muitas pessoas acabam cedendo (muita gente acha que quer ter filhos por conta desse tipo de coerção), mas vou me abster.
Falando dos animais, agora.
Existem uma série de fatores que impactam a vida de quem opta por ter um bichinho de estimação.
Um gato ou um cachorro (que são os principais animais de estimação nos lares do Brasil e mundo afora) também precisa comer, tomar vacinas, além de receber cuidados médicos veterinários.
Há ainda quem compre roupas e brinquedos para os pets, mas dentro do ponto de vista de gastos, um bichinho custa muito menos do que uma criança.
Na questão social, um animal é sim capaz de fazer companhia para seus tutores, não sendo tão dependentes quando uma criança.
Para aqueles que optam por ter um animal no lugar de um filho, mudanças de rotina também ocorrem.
Na hora de sair, não são todos os lugares que aceitam animais, por exemplo.
Há pessoas que não gostam de bicho e que não vão apreciar a visita do seu filho peludo.
E assim, sucessivamente.
Eu compactuo da opinião de que se você adota um animal, ele deve sim fazer parte de sua rotina o máximo possível.
Se você não vai cuidar, vai deixar sozinho, não tenha! Assim como crianças, ter um pet envolve responsabilidades, carinho, atenção e companheirismo.
Esse é um tema com potencial para gerar discussão que pode fugir da realidade de muitas pessoas e não cabe a ninguém julgar. Assim, cada um deve escolher suas batalhas.
Se você deseja ter filhos, é seu sonho ser pai ou mãe, vá em frente e tenha, mas não julgue negativamente a pessoa que não deseja se reproduzir.
Existem muitos prós e contras em ter filhos e também em ter pets e cabe a cada pessoa entender quais são seus desejos e mais do que isso: sua realidade.
Com duas vira-latas sob minha tutela, eu já fiz minha escolha.