O prazer à mesa: A comida como forma de satisfazer o corpo e a alma
Entenda como a alimentação é capaz de nos confortar, nos unir, nos fazer compreender sentimentos e ainda incentivar o pensamento coletivo
É inegável que comer é uma das maiores delícias da vida e não é exagero algum, pelo menos pra mim, afirmar que este é o maior prazer de todos.
Quem nunca se pegou pensando no próximo almoço? Naquela sobremesa favorita? Ou então na receita de família que só sua avó sabia fazer?
A verdade é que a comida vai além de uma simples necessidade biológica.
Comer é uma experiência sensorial, cultural, histórica capaz de despertar profundas paixões.
Quando se fala sobre o prazer de comer, é impossível deixar de mencionar o aspecto cultural que essa temática envolve.
Desde os tempos mais antigos, a comida sempre teve um importante papel em celebrações, encontros e rituais no dia a dia das pessoas.
Cada cultura tem seus pratos típicos, que levam temperos e especiarias particulares, além de formas únicas de preparo que por si só, já contam histórias de gerações.
Quem nunca buscou companhia na comida depois de um dia difícil? Uma boa refeição pode sim, funcionar como um afago a si mesmo(a).
Da mesma forma que o oposto também é válido.
Quando está tudo bem, a comida é utilizada veja só, para comemorar!
E isso só reforça meu pensamento na prática de que comer é o maior prazer da humanidade e a fisiologia nos ajuda a entender um pouco mais sobre esse contentamento.
A comida é sim um aconchego.
Afinal, quando comemos algo que gostamos, há secreção de serotonina - o famoso hormônio do bem-estar.
Por isso, é comum que a gente se sinta tão bem e feliz quando a gente come aquele alimento ou aquela refeição da qual tanto gostamos.
Inclusive, há quem prefira comer do que fazer sexo (não julgo, tá?).
Embora para alguns isso seja um absurdo, pesquisas e artigos mostram que, cada vez mais, as pessoas preferem comer do que transar.
Uma das explicações para isso é o fato de que as pessoas identificam suas opções gastronômicas com a própria personalidade.
Na pesquisa em questão (linkada aí em cima), a maioria dos participantes afirmaram que suas escolhas na cozinha mostram parte de seus valores.
Aí quando comem algo de que gostam, se sentem mais conectadas a seus princípios.
(Talvez) Por isso, o prazer de um jantar parece ser tão bom ou ainda melhor que uma noite de sexo.
Compreensível, não é mesmo?
Sigamos adiante, então.
Comer também é um ato de socialização. Se reunir na mesa com amigos e familiares para compartilhar momentos e histórias é algo afetuoso, prazeroso.
A comida, muitas vezes, é o centro dessas reuniões. Seja para um jantar simples ou uma grande festa.
Em outras palavras, trata-se de um elo capaz de unir pessoas e fazer com que a gente se sinta parte de algo maior.
Contudo, quando se fala de alimentação como prazer é preciso responsabilidade, compreensão e consciência. Principalmente quando quem está escrevendo sobre o tema é nutricionista.
É fundamental ter em mente que como qualquer prazer, a alimentação também exige equilíbrio.
Comer é uma fonte de prazer, mas deve haver consciência e moderação, uma vez que nosso organismo precisa de uma variedade de nutrientes para funcionar de forma adequada, e o exagero de alguns tipos de alimentos pode trazer problemas de saúde.
E é aqui que a busca pelo equilíbrio se torna fundamental.
Logo, é importante entender que podemos e devemos nos permitir momentos de indulgência, mas de forma a equilibrar tudo.
Na verdade, essa é a chave para aproveitar o melhor que a comida tem a nos oferecer.
Digo para pacientes (e para leitores) que quem come de forma equilibrada, come tudo e esse equilíbrio está muito além do aspecto físico: ele também envolve a questão emocional.
Em tempos de desordens de saúde mental exacerbadas, para muita gente a comida acaba se tornando uma válvula de escape para lidar com as emoções.
Ansiedade, estresse, cansaço, tristeza são exemplos de sentimentos e emoções que podem nos levar a buscar conforto na comida.
Tudo bem comer algo que gosta quando se sente triste ou cansado(a), o problema é que, quando esse tipo de comportamento se torna constante pode acabar por prejudicar saúde física e mental.
Por isso, se você que está lendo isso perceber que está comendo para aliviar sentimentos negativos, é importante buscar ajuda.
O acompanhamento profissional de nutricionistas e psicólogos é fundamental para compreender e entender as raízes desse comportamento e encontrar maneiras mais saudáveis de lidar com a emoção.
E por fim, quando a gente fala de alimentação e os prazeres que a comida é capaz de proporcionar, é importante reconhecer que para muitas pessoas no Brasil e no mundo o acesso à alimentação segura não é uma realidade.
Embora alimentação seja um direito garantido em constituição, milhões de brasileiros e pessoas de outras nacionalidades enfrentam o que chamamos de insegurança alimentar.
Ou seja, há quem não tenha a certeza se haverá comida suficiente para a próxima refeição.
É essencial que o prazer de comer seja acompanhado por uma consciência social, buscando formas de contribuir para a redução das desigualdades e o acesso universal a uma alimentação saudável.
Reconhecer esse contexto é fundamental para que a gente possa valorizar ainda mais o ato de comer.
Por isso, aproveite cada refeição, saboreie todos os momentos à mesa sem deixar de prestar atenção aos sinais de seu corpo e de suas emoções, mas sem esquecer que o acesso à alimentação é um direito de todos e é nossa responsabilidade (principalmente de nutricionistas) lutar para que ele seja garantido.
Afinal, o grande prazer é viver de forma justa e saudável para geral.
Li para o grupo de idosos e após tive depoimentos de alguns que já vivenciaram momentos prazerosos com a família ao redor da mesa e que preferem comer do que transar.