A origem do movimento setembro amarelo
Entenda de onde surgiu a ação a importância de não permitir que a hipocrisia e o marketing tomem as rédeas
Sempre que o mês de setembro chega, redes sociais são invadidas por posts relacionados à saúde mental. Sejam eles postados por profissionais da saúde, ou por perfis de empresas.
O Setembro Amarelo é um movimento, uma campanha de conscientização sobre prevenção do suícido. Idealizada ainda no fim do ano de 2014 por uma série de entidades, teve sua primeira edição no ano de 2015.
O dia 10 e a cor amarela têm origem no suicídio do Mike Emme, que se matou dentro de seu Mustang amarelo em 10 de setembro de 1994.
Mike Emme, filho do casal Dale Emme e Darlene Emme, suicidou-se com apenas 17 anos. Mike era conhecido por sua personalidade caridosa e por saber muito sobre mecânica. Sozinho, o garoto conseguiu restaurar um Mustang 68 e pintou o carro todo de amarelo - o fato chamou atenção, pois foi a primeira vez que autoridades de saúde perceberam que a depressão não seguia um padrão comportamental.
É importante mencionar, que eu mesmo já fiz posts em redes sociais e redigi artigos falando sobre a ajuda que a nutrição possui dentro do movimento.
Contudo, há algum tempo tenho notado duas coisas sobre o Setembro Amarelo - a sua importância e a hipocrisia ao seu redor.
Para escrever o artigo de hoje, me baseei em casos próximos à minha realidade, à legislação e aos teatros aos quais estamos expostos nas mídias.
Órgãos de saúde como OMS e Ministério da Saúde afirmaram categoricamente em meados dos anos 2020 que essa década (2020 - 2030) seria voltada à atenção à saúde mental.
Como nutricionista que busca fugir do óbvio, há algum tempo venho trabalhando com alimentos, nutrientes e fitoterapia com o objetivo de manter e recuperar a saúde mental de pacientes.
Inclusive, hoje esse é meu foco principal como nutricionista.
Um ponto sobre o qual não há divergências é o de que a pandemia foi um catalisador no aumento de casos de problemas voltados à saúde mental.
O medo de se infectar, incertezas relacionadas ao trabalho, falta de condução firme por parte do Ministério da Saúde e pelo Governo Federal com relação a cuidados sanitários e trabalhistas fizeram com que os brasileiros ficassem literalmente com os nervos à flor da pele.
Os reflexos, são sentidos até hoje, momento em que temos a pandemia sob controle, mas a saúde mental não está em dia. Prova disso são as explosões de casos de ansiedade e Burnout!
O Brasil é hoje, segundo a OMS, o país com maior taxa de prevalência de ansiedade no mundo.
Na questão do Burnout, também não estamos “bem na fita”.
Mais uma vez, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, somos top 2 nesse ranking indesejado, ficando atrás apenas do Japão.
Falo agora, com conhecimento de causa, uma vez que estou engajado com a saúde mental por meio da nutrição.
É importante ressaltar que com o crescimento de casos Brasil e mundo afora, o Burnout tem CID.
A partir do dia 1° de janeiro de 2023, a síndrome de Burnout tem o código QD85, dentro da CID 11 - classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas de Saúde.
Como profissional da saúde, vejo essa inclusão com bons olhos.
Eu nunca vivi dentro do universo corporativo e vejo que quem trabalha nesse meio, leva uma vida insana.
Metas muitas vezes fora da (minha) realidade, acúmulos de funções, assédios de todos os tipos por parte de colegas e superiores e salários muitas vezes defasados.
Esses são os principais exemplos do que pacientes, amigos e parentes me relatam.
Uma pessoa diagnosticada com a síndrome de Burnout tem direito a 15 dias de afastamento remunerado.
Acima desse período, pode receber benefício previdenciário pago pelo INSS, que garante estabilidade provisória.
Ou seja, se você foi diagnosticado com Burnout você não pode ser demitido nos próximos 12 meses após o seu retorno.
E é aqui que entra a reflexão para TODOS sem exceção sobre o Setembro Amarelo.
Primeiro aos profissionais da saúde, cuja principal função é acolher, ajudar pacientes sem nenhum tipo de julgamento.
Segundo, mas não menos importante às empresas: de NADA adianta fazerem posts em redes sociais, como ocorre no LinkedIn, falando sobre o movimento e não agir de modo prático.
Contar com psicólogos, psiquiatras, nutricionistas e demais profissionais da saúde é fundamental para prevenir e recuperar quadros de Burnout.
Já atendi pacientes que foram diagnosticados com a síndrome e que foram demitidos quando voltaram do período de afastamento enquanto a empresa “fazia propaganda” sobre cuidado mental do trabalhador (porque ninguém é colaborador).
E terceiro, aos trabalhadores, que conheçam seus direitos e busquem ajuda quando sentirem que há algo errado.
Infelizmente, na maioria dos casos, o Burnout é apenas o começo.
Uma vez feito o diagnóstico, é comum o desenvolvimento de ansiedade, depressão e demais desordens mentais.
Por isso, buscar auxílio é um ato de coragem e de autocuidado, quem não arruma tempo para cuidar da saúde, em algum momento vai precisar cuidar da doença.
Por mais clichê que essa colocação seja, ela é extremamente verdadeira.
Ninguém é insubstituível.
Não é preciso trabalhar enquanto eles dormem.
A empresa não é uma família.
Seus superiores são seus colegas, não são seus amigos.
Sua saúde é e sempre será o seu bem mais valioso.
Murilo, venho desenvolvendo uma depressão que não sei se poderia estar relacionada a essa síndrome, pois ñ tenho vontade de comer, beber água em tampouco de continuar viva. Procuro, através de cobranças, me manter em condições de "dar conta " sozinha. Estou viajando para tentar "fugir" da realidade e recarregar meu ânimo. Sinto-me desamparada pela família e muito só após falecimento de um companheiro que por 9 meses me deu a alegria de viver.