Ao escrever o texto de hoje, sinto que me permiti um afago em um dos meus pontos fracos: o carinho por animais. Mais especificamente cachorros.
Se você não gosta de animais, sugiro respeitosamente que pare sua leitura por aqui.
Agora que quem não gosta dos bichinhos parou de ler, podemos dar continuidade ao nosso conteúdo.
Quem possui um animal em casa, independentemente de espécie, certamente já notou o companheirismo desses bichos.
Esse companheirismo não é algo novo. Há relatos históricos de que o cachorro virou amigo do homem há 12 mil anos.
A ideia mais aceita pela ciência hoje é a de que, nesses milhares de anos atrás, uma “determinada espécie canina ancestral” notou que andar próximo de humanos nômades passavam era uma boa ideia.
Afinal, era comum sobrar restos alimentares, que poderiam ser aproveitados (DNA de vira-latas, hein?)
Em um primeiro momento, acredita-se que o contato direto com humanos era evitado, afinal, humanos são capazes de atrocidades até os dias de hoje.
Contudo, alguns caninos com menos medo se aproximaram e daí nasceu a amizade, claro que com um “quê” de vantagem aos humanos.
Aqueles bichos percebiam coisas que os homens não são capazes de notar até hoje, como a presença de predadores, proximidades de presas, cheiros, barulhos e por aí vai.
Era o início de uma amizade duradoura.
Voltemos aos anos atuais, então!
Hoje, com 35 anos de idade, posso dizer que já tive alguns cachorros em minha vida.
A maioria na época de criança e adolescente, onde não havia “aquela responsabilidade” para com os bichinhos.
Dava comida, levava ao veterinário, mas não era eu quem comprava ração, tampouco bancava as consultas.
Com o passar dos anos, a chegada da vida adulta e o compartilhamento de escovas com a namorida, durante o período de pandemia, decidimos que era hora de adotarmos.
Assim, Polenta (cachorro de nutricionista tem que ter nome de comida) chegou à nossa vida, com estimados 3 meses de vida.
Estimado, pois é uma vira-lata que nascera na rua.
Em pouco tempo, entendi, na prática, o significado de companheirismo. Na pele, mesmo.
Rapidamente se tornou uma sombra. Onde estávamos ela estava atrás.
Com a chegada das vacinas e o afrouxamento das medidas de isolamento, Polenta passou a nos acompanhar em passeios externos.
Se ela não podia entrar em algum lugar, a gente também não entrava. Uma reciprocidade mais do que justa ao companheirismo dela.
Mas não é preciso ter um cachorro em casa para notar isso, basta olhar para pessoas que vivem em situação de rua. Normalmente, estão acompanhadas de algum animal.
Contei em meu livro (já leu? Se a resposta tiver sido negativa, garanta o seu aqui) a história do Sr. Rubens.
Sr. Rubens é um morador de rua que vive sob um pontilhão na Avenida Brigadeiro Luís Antônio em São Paulo.
Conta com dois cães, fiéis e companheiros: Mel e Cinquentinha. Os três estão sempre juntos.
Recentemente, adotamos mais uma cachorra (aquele lance de adotar um cachorro para o meu cachorro).
Foi a vez de Bisteca se juntar a família (nutricionista, nome de comida).
Chegou com estimativa de 6 meses de idade, depois de ter sido abandonada 3 vezes.
Com sua chegada, a relação recíproca de companheirismo entre cães e humanos em casa apenas aumentou.
Elas não ficam sozinhas, eu e Patrícia, idem.
O mais engraçado disso tudo, é que achei que esse sentimento de companheirismo, estar junto era algo meu.
Mas semana passada fui surpreendido positivamente pelo vizinho da minha mãe.
Parei para conversar com ele, afinal, fazia tempo que não o encontrava.
Ele estava junto de Pita, sua parceira vira-lata.
O vizinho, cuja atuação profissional é a de “faz tudo”, me disse que assim como faço com Polenta e Bisteca, não deixa Pita sozinha.
Ele a leva para todo tipo de trabalho, perguntando antes se pode levar a cachorra.
Quando recebe uma negativa, se nega a pegar o serviço. Isso para não deixar a cachorra sozinha.
Está errado? Do meu ponto de vista, com certeza, não”.
Ter um cachorro (ou mais) é conhecer na prática, o que é o amor, carinho e acima de tudo companheirismo, sem exigir nada em troca.
Assim, o mínimo que se pode dar em troca é a companhia.
Há uma série de clichês envolvendo o fato de ter cachorros, que não vou citar aqui.
Além do sentimento ei si, permito também que, a ciência me paute.
É comprovado cientificamente que: ter um cachorro amigo e parceiro por perto diminui os níveis de cortisol - conhecido como hormônio do estresse - no corpo. Ao mesmo tempo que esse mesmo cão é capaz de elevar os níveis de ocitocina, um hormônio que desperta a sensação de apego e amor, liberado normalmente durante um abraço em quem você gosta e na mulher durante o parto.
Vamos com um pouco mais de ciência antes de finalizar.
Um outro estudo mostra que, pessoas que tem um animal de estimação apresentam menores chances de desenvolver depressão, quando comparados com pessoas que não tem bichos em casa.
Do lado de lá, ou seja, dos cães, rola uma reciprocidade.
Em 2015, um estudo conduzido pela Universidade Emory nos EUA, monitorou o cérebro de cães expostos a memórias olfativas que continham cheiros de cães conhecidos e desconhecidos, humanos desconhecidos e de seus donos.
Quando sentiam o cheiro dos seus donos, o núcleo caudado - área do cérebro associado ao prazer e fases do amor, intensificava sua atividade.
Por mais que tentemos ao máximo, responder de forma recíproca ao amor e companheirismo que nos é dado diariamente, ainda continua achando que o ser humano não merece o carinho e o companheirismo dos cachorros.
Murilo, seu texto me levou à constatação do quanto errei. Sim! Em 2012 ganhei um cão e mesmo lhe proporcionando cuidados profissionais - vacinação, adestramento e acompanhamento veterinário o deixei várias vezes só ao viajar, pois quem eu pedia só com ele ficava por momentos pra lhe dar ração e o levar à rua. Há seis meses sofro com sua ausência, mesmo tendo a certeza que tudo fiz pra o ter sempre ao meu lado, mas chega a hora que o desapego é necessário apesar de não desejado.
Polenta e Bisteca! ❤️