A busca por uma vida mais longa não é algo novo. Avaliando de modo frio e direto, é possível notar que existe quase uma fixação do ser humano em viver mais, ou então, viver para sempre.
A questão da longevidade, também se faz presente em obras de ficção. Quem nunca assistiu um filme (ou uma série), onde pessoas são congeladas para viver no futuro, ou enquanto não há cura para uma determinada doença.
A grande verdade é que nunca vivemos tanto como nos dias de hoje.
Por meio de uma análise rasa e simplória, é possível, inclusive elencar algumas razões pelas quais vivemos cada vez mais: saneamento básico, acesso a tratamento e medicamentos e acesso à informação, por exemplo, são as primeiras que me vêm à mente.
O último relatório estatístico da OMS - Organização Mundial da Saúde mostrou que entre os anos 2000 e 2019, a expectativa média de vida saltou de 66,5 para 73,3 anos.
Levando em consideração essa “onda do viver mais” há um crescimento de startups e de suplementos que prometem fazer com que alcancemos mais anos de vida.
Isso é bacana? Sim!
No entanto, ao mesmo tempo que promessas de longevidade surgem aos montes, a principal contrapartida para isso, que é a qualidade de vida acompanhada desses anos a mais de vida (ainda) não existe!
Viver mais é sim algo que precisamos enxergar como positivo.
Contudo, envelhecer com qualidade de vida, ainda é algo para um público bastante seleto.
Muitos enxergam longevidade e qualidade de vida como sinônimos. Mas estão longe disso.
Levando em consideração dados da OMS, a expectativa de vida está diretamente ligada à outra coisa: Renda. Ou seja, grana!
Em países onde a renda per capita é baixa, a expectativa de vida é quase 20 anos menor do que em nações mais ricas.
Quando puxamos isso para o Brasil, a questão se torna um pouco mais complicada, para não dizer, delicada.
Isso porque o nosso sistema de saúde não está preparado para essa demanda de longevidade que estamos vendo acontecer na nossa frente.
Mas Murilo, você tá dizendo que a conquista da longevidade é ruim?
Muito pelo contrário!
O envelhecimento populacional deve ser celebrado e não visto como um problema, pois ele é fruto de políticas públicas de saúde que obtiveram êxito ao longo de MUITOS anos.
Mas (sempre tem um mas)...
Agora é o momento dos sistemas de saúde se prepararem para essa revolução da longevidade que acontece diante dos nossos olhos.
E quando falo de sistemas de saúde, me refiro ao público e ao privado.
Do meu ponto de vista, o sistema de saúde privado existe e é “forte” por conta de administrações equivocadas e “sabotagens” políticas alimentadas por lobbies.
Trata-se de um sistema que visa uma só coisa: lucro!
Logo, para se manter funcional, realiza reajustes acima da inflação e conforme os pacientes envelhecem, mais fora da realidade se tornam suas mensalidades.
Some-se a isso, os fatos de muitos procedimentos não são autorizados (por serem caros e acabarem com os lucros), o que tem levado a uma verdadeira avalanche de ações judiciais sobre esses planos.
Aqui há um paradoxo que não deixa de ser engraçado: A saúde dos planos de saúde particulares hoje não vai bem. Eles vivem em um processo de “canibalismo” mútuo, onde no final não deve restar ninguém.
Utopia da minha parte? Sim, mas essa possibilidade, embora remota realmente existe.
Falemos agora da esfera pública, do nosso SUS - Sistema Único de Saúde. Aqui a questão é diferente e semelhante ao mesmo tempo (complexo, não?).
O SUS é um sistema que contempla todo tipo de atenção médica à população, contudo, sua atenção às pessoas longevas hoje passam longe de ser o que precisavam ser.
É preciso “colocar para funcionar” os cuidados de longa duração, também conhecidos como cuidados de dependência.
Isso seria a consolidação de um sistema capaz de garantir em um primeiro momento um envelhecimento saudável, para em seguida, assegurar dignidade para pessoas idosas.
Até o momento só falei de envelhecimento e qualidade de vida no processo de longevidade citando sistemas públicos de saúde.
Mas existe uma linha que precisa ser cruzada sobre a qual falarei resumidamente agora.
Se envelhecemos e vivemos cada vez mais, automaticamente precisamos de mais dinheiro para viver esses anos excedentes, não é mesmo?
E o que garante mais dinheiro para vivermos de maneira mais longeva e nos aposentarmos com dignidade? Trabalho, recolhimento de impostos e previdências social e (quiçá) privada.
A verdade dentro de tudo isso, é que para que possamos viver mais, a gente vai ter que trabalhar mais.
Talvez seja necessário mais anos de contribuição previdenciária, assim como mudanças no nosso sistema tributário (não sou economista, tá?).
Acho muito legal o debate sobre envelhecermos e vivermos cada vez mais.
Mas isso não pode acontecer só pra quem é rico e tem dinheiro para comprar suplementos caros que a MAIORIA da população nunca vai ter acesso.
Longevidade, saúde pública, trabalho, tributação são temas que se entrelaçam e geram muito debate (para não dizer discussão).
Eu mesmo não concordo que a gente precise trabalhar ainda mais do que a gente trabalha atualmente. De que adianta viver mais para ser ainda mais moído pelo trabalho?
Também não me desce o fato de que há pessoas que consigam pagar cifras absurdas em planos de saúde particulares, quando poderíamos ter um SUS ainda mais forte e funcional.
O Brasil caminha para ser um país majoritariamente idoso. Pesquisas e levantamentos apontam que isso vai acontecer em meados de 2060.
Não adianta startups, empresas de medicamentos e planos de saúde particulares ficarem no discurso bonito, raso e superficial de longevidade
Viver mais e com mais qualidade é algo que precisa ser para todo mundo.
É preciso debatermos sobre políticas de envelhecimento, alterações tributárias, maneiras de envelhecer com saúde e manter dignidade na terceira idade sem que seja preciso morrer de trabalhar para isso.
Mas faltando pouco tempo para nos tornarmos um país de idosos, já dá pra concluir que estamos atrasados e que é muito provável que o privilégio de viver de forma longeva e com qualidade de vida, será para poucos.
Exato! Infelizmente tem quem ainda acredita que somos - nós brasileiros privilegiados por ter SUS.
Quanta ingenuidade, desconhecimento ou quanta falta de consciência e participação? Poucos são os que lutam, defendem e reivindicam o que têm direito.
Existe toda uma " manobra" que vivenciei quando o Ministério da Saúde "engavetou" o projeto, do qual participei, que prejudicaria o interesse dos laboratórios na sobrevivência da população que conseguiria sobreviver na luta contra COVID.