Não sei de maneira exata quando esse tipo de comportamento se intensificou, mas se tivesse que “chutar”, chutaria que foi durante as eleições de 2018, talvez a mais polarizada (e previamente influenciada) dos últimos anos por aqui.
De lá para cá, o que se viu foi uma verdadeira revoada de especialistas sobre temas que sequer conhecem (imagina dominar).
Me permiti enfileirar aqui, os “últimos temas” que foram os preferidos dos sabichões, tudólogos, inteligentinhos ou qualquer que seja o “adjetivo” de quem precisa opinar sobre tudo. Foram:
Vacina de covid-19;
Guerra na Ucrânia;
Economia (mundial);
Geopolítica;
Eleições brasileiras (de novo, agora em 2022);
Descriminalização do aborto e de porte de drogas (maconha);
Guerra entre Israel e Hamas.
Veja só, são assuntos que precisam de conhecimento para debate (eu disse debate, não discussão) e posteriormente opiniões.
Vou (tentar) passar por cada um deles agora.
Para falar de vacina você precisa ao menos ser profissional da saúde. Enfermeiro, farmacêutico, biomédico, nutricionista, médico, psicólogo e por aí vai. Não é porque um político pelo qual você sente apreço (para não dizer tesão) compartilhou bobagens sobre o tema que você está habilitado a opinar sobre.
Falar sobre uma Guerra a milhares de quilômetros, onde até mesmo historiadores e políticos da região não entenderam até hoje não é algo fácil. Mas o cidadão mediano brasileiro acha que pode dar seus pitacos. O que a gente sabe até agora: Putin não é flor que se cheire, Zelensky idem, além de ser um (literal) palhaço fascistóide.
Economia mundial e geopolítica também são temas sensíveis e complicados sobre os quais os brasileiros gostam de dar pitacos. De modo geral, brasileiro não sabe nem votar para vereador e quer postar os motivos pelos quais o dólar subiu ou desceu, ou então qual candidato à presidência dos EUA seria melhor para o planeta.
As eleições brasileiras são basicamente uma obrigatoriedade de emissão de opiniões por aqui. Expressar sua opinião é válido, nesse caso, mas apenas em situação genuína e com conhecimento de causa, caso contrário, será um mero vômito de argumentos para seus iguais.
A exemplo da questão política, pautas como a descriminalização do aborto e de porte de drogas geram uma enxurrada de notícias falsas. Aqui, valem dois comentários verdadeiros sobre ambos os temas: O aborto e o consumo de drogas já são descriminalizados (ou liberados) por aqui. Mas apenas para quem tem privilégios (ser branco, ter dinheiro, ser influente). A descriminalização é uma questão de justiça e saúde pública.
E por fim, a bola da vez é a guerra entre o Hamas e Israel em uma região cujas desavenças são provenientes da época do exército romano. Os anos se passaram, acontecimentos históricos foram deflagrados e nem mesmo a ONU conseguiu pacificar Israel e a faixa de Gaza, embora há quem diga que é uma questão fácil de ser solucionada.
Na minha opinião, esse excesso de expressão de opiniões foi deflagrado pelo crescimento e alcance das redes sociais.
Inclusive, é importante dizer que as redes sociais são perigosas, pois elas dão às pessoas a ilusão de que são importantes, de que têm algo a dizer, quando na verdade não são importantes porra nenhuma e suas opiniões e nada são a mesma coisa.
A cada novo acontecimento que surge, milhares de “especialistas” aparecem, com opiniões fortes e detalhadas sobre algo que até ontem não estava em seu repertório.
Criou-se o péssimo hábito (ou talvez ideia) de ter que saber e opinar sobre tudo, quando a verdade é exatamente o oposto disso.
Em um mundo onde todos têm uma opinião formada, não opinar sobre algo ou até mesmo não consumir o determinado assunto em questão é um ato de coragem (e de saúde mental).
E como já coloquei a minha à prova ao resolver desnudar meus pensamentos neste espaço, assumo um mea culpa ao tecer minhas opiniões por aqui, mas espero que entendam a ironia da crítica e a intenção ao fazê-lo.
Por fim, a questão de opinar sobre tudo, me parece ter um fundo egocêntrico, mas sobre o qual eu não consigo (e nem quero) explanar de maneira profunda (tá vendo?).
Você não precisa saber tudo, tampouco viver opinando por aí.
Por isso, antes de dar sua opinião, tenha duas coisas em mente:
A primeira: Ninguém pediu a sua opinião (principalmente se você não for especialista no tema sobre o qual está opinando).
A segunda: O mundo vai continuar girando (a não ser que você seja terraplanista) se você não opinar.
Se o tema te interessa, escolha bem suas fontes, estude e só.
Economize sua energia.
O mundo já está uma merda sem sua opinião, não torne as coisas ainda piores com suas colocações que não vão levar ninguém a lugar algum
Li, certa vez, a postagem : " NÃO PEDI SUA OPINIÃO, PEDI UM CAFÉ." e essa resposta dada, a quem se atreveu a opinar, seja um tanto rispida é a que muitos, e eu me incluo, dispensa o comentário sem ter conhecimento de quem só quer participar sem conhecimento de causa.