Ateus são ruins?
A ausência de fé não significa carência de virtude. Viver sem crer em uma divindade não quer dizer falta de ética, humanismo e empatia.

Será que o fato de que uma pessoa não acredita em deus, faz dela um ser humano pior do que aqueles que creem em algo?
Enquanto para uns ter fé é algo fácil, para tantos outros trata-se de algo que beira a falta de coerência.
E já aproveito para dizer logo de cara: eu acho muito bonito uma pessoa que tem fé. Mas falo disso mais tarde.
Minha tentativa com esse texto, é de desabafar, ou então, uma forma de autodefesa em um bate papo reto e direto com você que está me lendo.
No auge dos meus 36 anos, hoje me considero ateu, muito pelo fato de ser cético, com basicamente tudo que envolva “o divino”.
E o mais engraçado é que isso não é algo “de agora”.
Fui criado em uma família católica não praticante e passei por todos os ritos da religião: catecismo, crisma, mas não era obrigado a ir à missa.
Via meu pai acender velas e rezar para santos, mas aquilo nunca me tocou a ponto de me fazer acreditar de que fosse algo funcional.
A adolescência chegou e com ela a rebeldia sem causa. Questionei muito (e ainda hoje continuo a questionar).
Quando comecei a pensar por mim mesmo, busquei outras religiões para tentar satisfazer a minha curiosidade sobre a existência de deus.
Não encontrei uma resposta que fosse capaz de me convencer da existência de um deus (ou deuses). Foi frustrante? Sim, mas paciência.
E isso não é uma crítica, mas talvez um ceticismo exacerbado de minha parte.
Assim, por enquanto eu sigo sendo ateu.
A grande questão é que no meu círculo de amigos e parentes, não sou visto com bons olhos pela maioria quando conversamos sobre essa temática.
Já ouvi frases do tipo: “Se você estiver em um avião caindo vai gritar por deus, ou então, no seu leito de morte, vai se arrepender”.
Para essas afirmações, costumo responder que se estiver dentro de um avião caindo, provavelmente estarei dormindo e após me despedir do meu leito de morte, se deus realmente existir para que não se preocupem que eu me resolvo com ele num bate papo amigável (principalmente se for o deus do novo testamento).
De modo geral, se avaliarmos de maneira passional, os ateus “saem perdendo”.
Pelo menos quem é brasileiro sai perdendo nessa questão.
Afinal, vivemos no Brasil, que hoje é o maior país católico do mundo que vivência a passos largos um crescimento fervoroso de evangélicos em um estado que convenhamos, está longe de ser laico.
Isso tem alguns reflexos. O primeiro deles é a impressão de que os ateus são figuras anticristo, que estão à serviço do demônio.
Mas não.
Tá cheio de gente boa aí, inclusive famosos que são ateus e muita gente sequer tem ciência disso.
Em uma ocasião recente, durante um bate papo com um grupo de pessoas mais velhas sobre nutrição, enveredamos a conversar acerca da questão da fé sobre saúde e bem-estar e aí me questionaram sobre minha religião.
Quando disse que era ateu, os semblantes ao meu redor mudaram e ouvi frases do tipo:
“mas você é tão inteligente, você ajuda as pessoas com boas informações e orientações, como não acredita em deus?”.
Pois é.
Mas nós, ateus, não somos pessoas ruins.
Me atrevo a dizer (inclusive com um quê de certeza), que somos pessoas que levam adiante ensinamentos de Cristo mais do que a maioria dos próprios cristãos.
O ateu é ético, solidário e feliz seguindo princípios humanistas. Simples assim.
E acho que a principal sacada para se viver tranquilamente sendo ateu é evitar o proselitismo.
É um pé no saco ser pró ou contra alguma religião.
O ateu de verdade, fica de boa, no seu canto, sem gritar aos quatro cantos que não crê em deus.
Infelizmente, ainda existem ateus que não compreendem que pessoas religiosas têm direito a seguir uma religião assim como temos de ser céticos.
Talvez, quando deixarmos de misturar educação com religião, e aqui falo de Brasil e de mundo, essa intolerância entre religiões e com ateus venha a cessar.
E antes de finalizar queria puxar um pouco a sardinha pro nosso lado, em termos de saúde mental e para isso vou esticar a corda de uma maneira que talvez seja pouco sensata.
Em alguns casos, os ateus precisam enfrentar questões do cotidiano de maneira mais árdua.
Escrevi em um outro texto, que ter fé faz bem à saúde.
Quando você acredita em algo divino e faz uma oração, há uma sensação de paz, de acalanto logo em seguida a sua prece que faz com que um sentimento de bem-estar venha à tona.
Isso pode acontecer durante um tratamento de determinada doença, ou qualquer tipo de situação difícil, independentemente de sua natureza.
E essa questão de agrura, principalmente na parte sentimental, ficou clara para mim em momentos de mortes de entes próximos e queridos nos últimos anos.
Enquanto todo mundo ao meu redor tinha o conforto da religião, eu lidei com essas perdas de forma direta: acabou. Simples (e talvez, mais doloroso) assim.
E vou além…
É notório como as pessoas que têm fé, ou que têm uma religião são ricas por causa disso.
Acredito ser possível fazer um paralelo maluco aqui, citando que haja talvez uma dimensão existencial que eu não consiga tocar pelo fato de não ser uma pessoa de fé, por ser uma pessoa cética e isso é triste.
Afinal, o barato da vida é vivê-la de forma plena, e sendo cético como sou, não alcançarei esse grau de plenitude dos religiosas.
E antes de finalizar, reitero que tenho imenso respeito por pessoas religiosas e não sou um ateu militante, que se acha superior por ser assim.
Eu não tenho o dom da fé e a vida de quem tem fé é mais rica que a minha, com toda certeza.
Tenho plena consciência disso, mas isso não faz de mim uma pessoa ruim.
PERFEITO! É exatamente assim - nós céticos ñ somos aceitos pela grande maioria. Fui e criei meus filhos no catolicismo, mas adulta ingressei no espiritismo - candomblé e por ter ñ aceito certos paradigmas, me afastei. Fui discípula da Fundação Logosófica e até perceber a manobra da direção lá fiquei 9 anos. Creio que nós-humanos somos parte da Natureza e interagimos nossas energias e, através da Física Quântica, somos responsáveis por tudo que nos acontece e conscientes que TUDO DEPENDE DE NÓS.