Entre o Tesão e o Relógio: A Realidade do Sexo Agendado
As nuances de uma prática que pode ser solução para uns e pressão para outros.
A vida moderna trouxe uma série de mudanças significativas nos relacionamentos e consequentemente na sexualidade das pessoas.
Dentre essas alterações, algo que vem ganhando cada vez mais a mídia e a vida de casais é a prática de agendar horário para transar e isso, tem levantado uma série de discussões sobre espontaneidade, desejo e dinâmicas de poder nos relacionamentos.
Fiquei encanado com o tema enquanto assistia uma série (Ninguém Quer - Netflix) no mesmo dia que vi uma chamada em um portal onde um casal famoso afirmava que só conseguia transar com hora marcada. Não li a matéria.
Como solteiro que sou, fiz algumas pesquisas, conversei com amigos e tentei desenrolar um algumas linhas sobre as nuances que envolvem a prática de transar com hora marcada. Bora ler?
Como sempre, costumo buscar algo palpável em termos de ciências ou pesquisas, justamente para ter embasamento e não falar asneira.
Comecemos então pelos estudos.
Um levantamento da Universidade de Chicago fez entrevistas aleatórias com pessoas casadas e o resultado apontou que 23% dos entrevistados não tinham feito sexo no último ano.
Já no Reino Unido, uma outra pesquisa, essa publicada no British Medical Journal, o resultado foi o de que um terço dos entrevistados não haviam feito sexo nos últimos trinta dias.
Você que me lê, pode argumentar: “Mas estadunidenses e ingleses fazem menos sexo que brasileiro”.
Ok, o argumento é válido, mas o que leio e ouço por aqui é que casais estão transando cada vez menos.
Em conversas com amigos, ouvi de tudo e vou replicar o que escutei.
Um dos argumentos que mais levei em consideração foi o de um amigo que exemplificou da seguinte forma:
Se o casal é composto por uma pessoa que trabalha como cirurgiã(o) cardíaco e precisa consertar aortas, válvulas, implantar stents ou realizar transplantes de coração e seu par for um(a) fiscal da Receita Federal em um aeroporto internacional, eles provavelmente terão que marcar hora para transar.
Concordo com isso.
Em conversa com a mãe de uma de adolescente que namora, ela me fez o favor de questionar ao casal e a resposta foi deveras interessante:
Eles gostaram da ideia pelo fato de criar uma expectativa, saber qual é o “dia deles”, contudo não gostaram da sensação de obrigatoriedade. O casal disse em tom de brincadeira que o tiro pode sair pela culatra, afinal, se um compromisso inesperado ocorrer, o mesmo vai ter que ser deixado de lado, pois o que é combinado é combinado.
E por fim, um casal de amigos abriu o coração e foi sincero comigo para a elaboração desse texto. Eles disseram:
Temos horário, sim. Pode parecer estranho, mas é o que funciona para gente. É uma questão de criar compromisso, para estar de corpo presente e fazer a física e a química acontecer. Mas por outro lado, é ruim, pois se não rolar por parte de um ou de outro pode haver uma sensação de que ficou devendo.
Colocadas as “questões científicas” e as realidades daqueles que me cercam, é hora de vestir a capa de escritor e soltar a mão com nuances possíveis sobre o tema e finalizar com a minha opinião.
Em relacionamentos mais longos, é natural que o desejo sexual oscile, assim, agendar um momento íntimo, é, talvez uma forma de ajudar a reviver o tesão e a conexão.
No entanto, como em todos os relacionamentos, isso exige comunicação honesta entre os parceiros para que a prática não se torne uma mera obrigação vazia, é como o papo de querer ter filhos ou não.
Há quem defenda esperar pelo tesão, contudo isso pode ser problemático.
Afinal, hoje há agendas apertadas e distrações constantes, principalmente oriundas de tecnologia, o que pode fazer com que o desejo espontâneo se torne uma ocorrência rara.
Nesse caso o equilíbrio é fundamental e se o sexo for agendado, ele deve ser visto como uma oportunidade de proximidade e conexão.
Um ponto complicado sobre sexo é a questão da obrigatoriedade da prática. Principalmente por parte do público feminino.
Ainda há uma ideia persistente de que as mulheres devem cumprir um papel na vida sexual, mesmo quando não estão dispostas.
Isso é fruto de uma dinâmica desigual, na qual o prazer feminino é ignorado em prol de uma obrigação cuja construção é puramente cultural.
Essa abordagem acaba por perpetuar relações abusivas mesmo em casos de namoro e casamento.
Outra questão da qual vale a pena falar envolve os casamentos que são baseados em conveniência.
Seja por interesses financeiros, sociais ou pela repressão da verdadeira orientação sexual.
Em muitos desses casos, a vida sexual de casais que estão juntos por conveniência é insatisfatória ou inexistente, o que acaba por gerar ressentimentos, frustrações e infidelidade.
A sociedade hoje ao impor normas afetivas rígidas, acaba por empurrar muita gente para relacionamentos que não refletem desejos e identidades.
Nesses casos, é comum que o “casal” precise de hora marcada para transar, como forma de se preparar emocionalmente para o ato em si.
E após todas essas abordagens eu deixo o meu pitaco sobre o tema.
Agendar sexo pode parecer uma solução pragmáticas para aqueles cujas rotinas não deixam espaço para momentos de intimidade.
Não tenho uma opinião 100% formada sobre o assunto, mas vejo na ausência de um casal que demore para ter um tesão natural, um sintoma de falência da sociedade como um todo.
Se você está com uma pessoa e gosta dela, é natural ter desejo constante por ela. Protelar um momento de intimidade e prazer a ponto de ter que agendá-lo soa estranho pra mim.
E aqui aproveito a deixa para um pensamento particular de cada um que me lê: o que levou as pessoas a isso? Excesso de trabalho? Distrações tecnológicas? Desconexão com o(a) parceiro(a)?
Ainda cabe ressaltar que, a intimidade é uma expressão de conexão e não uma obrigação ou convenção social.
Embora a abstinência ou diminuição da prática sexual possa ser uma escolha individual ou circunstancial, os seus impactos vão além do âmbito pessoal.
Mudanças no comportamento sexual de uma sociedade podem revelar tensões ou mudanças culturais mais amplas.
E para finalizar, penso que aumento do número de pessoas que optam por marcar horário para o sexo ou acabam não tendo relações sexuais merece atenção de especialistas para que haja compreensão dos motivos e também abordar as consequências dessa “nova realidade.
Perfeito, Murilo! Era o que eu precisava pra dar a resposta a um cidadão que tenta me conquistar, mas pisa na bola quando argumenta que sexo - 1 vez por semana. Nós conversamos, estudamos junto pq já lhe ministrei aula qdo fez um concurso e agora está inscrito noutro. Tento me convencer, mas estou gostando dele. Quando me provoca dizendo que sexo é uma vez por semana....Vou enviar pra ele sua crônica.