Na época em que cursei a primeira faculdade, lembro da minha professora de Genética (por quem nutria uma paixão platônica de fim de adolescência) dizer que hábitos eram tão ou mais hereditários do que genes.
Algo extremamente real - e assustador quando paramos para analisar.
Quem não tem um hábito que adquiriu diretamente da convivência com os pais, ou avós? Você que me lê neste momento deve ter alguma “mania” ou executa algo de determinada maneira que foi passada de uma geração acima diretamente para você.
Mas por que falar de hábitos, genética e hereditariedade? Calma, que a coisa toda já vai clarear.
Não sei exatamente se um dos hobbies mais antigos que tenho é hereditário, mas é um hábito: assistir corridas. Inclusive às madrugadas.
Lembro vagamente de assistir corridas com meu pai que já se foi, talvez ele tenha passado esse gosto para mim. Contudo, com o passar dos anos ele parou de acompanhar as competições e eu continuo até hoje.
Minhas memórias claras de corridas me levam ao ano de 1995 com lembranças vívidas.
Para desgosto dos mais velhos e dos mais novos cegos pela mídia, não tenho nenhum brasileiro como ídolo.
“Você não torceu pelo herói Ayrton Senna? Não acha que ele é o melhor piloto de todos os tempo? que absurdo, Murilo”
Quando ele morreu eu já assistia corridas, mas seria leviano da minha parte dizer que lembro de seus feitos.
E quanto ao ser o maior, há também um exagero, Schumacher, Hamilton, Verstappen, por exemplo estão à frente dos suas conquistas.
Mas sigamos.
Eu tenho alguns hobbies: praticar atividades físicas é um deles, inclusive o principal, eu diria. Tocar violão, ler, cozinhar, escrever são outros… E também assisto corridas.
Embora a prática de atividades físicas às vezes me faça dormir menos, pois em algumas situações é preciso acordar cedo para “fugir do sol e do calor”, apenas um hobbie me tira o sono de forma literal: Assistir corridas.
Quando falo de assistir corridas, hoje são poucas as categorias que acompanho: Fórmula 1, MotoGP, Fia WEC e Indy. As duas primeiras sou assíduo, já as duas últimas acompanho com menos afinco.
E as nacionais? Deixei de lado há algum tempo!
E como um hobbie dessa natureza me tira o sono? Simples, são campeonatos mundiais, que como o nome já diz, têm etapas em países espalhados pelo globo e com fusos horários distantes do qual eu vivo, o famigerado horário de Brasília.
Muitos dos meus amigos (que não são muitos), me zoam até hoje: “o cara acorda de madrugada para ver corrida”.
Para aqueles que me perguntam: “qual é a graça de ver carros e motocicletas correndo em círculos?” Eu normalmente respondo: e qual é o divertimento de ver 22 marmanjos correndo atrás de uma bola?
Cada louco com sua mania. Não enche meu saco!
O fato é que as corridas são sim, divertidas.
É legal ver os avanços tecnológicos dos carros e motos, que considero também como obra de arte, além das estratégias e das bagunças em pista.
Chuva, acidentes, equipes pequenas que vencem, pilotos que conquistam suas primeiras vitórias.
Tudo isso é legal, tem uma mística, uma beleza da qual gosto e não sei, nem preciso explicar.
Sobre o perder o sono: Algumas corridas acontecem de madrugada aqui no Brasil, o que me dá algumas opções: Fico acordado direto, durmo e acordo na hora da largada ou deixo para assistir a reprise pela manhã.
Quando criança e na adolescência, ficava acordado direto.
Hoje próximo dos quarenta anos, eu opto por dormir e acordar próximo do horário das luzes vermelhas se apagarem.
E para conseguir assistir as corridas das madrugadas, moldei alguns comportamentos.
O primeiro é dormir no sofá da sala. Isso faz com que o sono não seja tão bom, o que aumenta as chances de eu realmente acordar para assistir o evento.
O segundo comportamento é gastronômico. Na hora das corridas, costumo optar por iguarias pouco saudáveis e que poderiam até mesmo trazer julgamentos (vou poupar você que me lê do menu).
Vejo esses comportamentos com um ato escancarado de solitude.
Quem gosta do esporte, assim como eu, sabe que, corridas são facas de dois gumes quando se fala em espetáculo e emoção. Há etapas boas e etapas ruins.
Quando a corrida ocorre de madrugada e é boa, costumo dizer que valeu acordar para assistir.
Mas quando a corrida é ruim, morna e sem graça, já mando na lata: “perdi o sono à toa”.
E infelizmente no último fim de semana, foi isso que aconteceu…
Uma literal procissão de carros de corrida em Suzuka no Japão. Onde mais uma vez, meu hobbie me tirou o sono.