Esse é o primeiro capítulo do meu primeiro livro: Histórias de uma pandemia anunciada, que está em pré-venda no site da Editora Kotter.
Na obra, conto histórias reais e pessoais de como foi viver no Brasil durante os piores momentos pandêmicos, mas sob a ótica de um profissional da saúde, altamente humanizado, crítico, político, empata e idealista.
Espero que você goste (e que leia o livro inteiro)
Todo mundo tinha uma vida antes da pandemia, e eu tive sorte – apesar de não saber se sorte seria o termo –, de chegar a São Paulo pouco tempo antes dela começar.
Meu nome é Murilo, biomédico e nutricionista, que ganha a vida escrevendo sobre saúde, ou seja, um perfil diferente da maioria dos profissionais desse âmbito pelo Brasil afora.
Como digo no título deste capítulo, venho do interior, mais precisamente da cidade de Serra Negra/SP. Uma cidadezinha com pouco mais de 29 mil habitantes, um ótimo lugar para se viver quando falamos de qualidade de vida, mas mal administrada politicamente, com potencial não aproveitado e, como é relativamente comum no interior, com uma galera cuja distração é fofocar sobre a vida alheia.
Você é filho de quem? Trabalha com o quê? Namora, é casado com quem? De quem ele(a) é filho(a)? Qual seu sobrenome?
Essa é a típica vida de interior que eu não julgo, mas tem hora que é uma merda.
Desde julho de 2018, eu moro junto com a Patrícia, minha “namorida” – no neologismo adotado, que nada mais é que a junção de namorada e marida.
De acordo com o dicionário, marida vem do verbo maridar. O mesmo que casar. O significado de maridar:
“Casar(-se), unir(-se) em casamento (com referência a uma mulher): Maridou a enteada. Maridara-a com um fazendeiro. “...homens com quem elas maridavam” (Gastão Cruls). Maridou-se no estrangeiro.”
Comecei a namorar a Patrícia em julho de 2012. Ela é jornalista e, assim como eu, passou muitos perrengues na profissão, principalmente nos tempos em que morávamos no interior.
Até que, em agosto de 2019, ela arrumou um emprego em São Paulo e lá fomos nós de mala e cuia para a capital, deixando amigos e famílias (leia-se mães) para trás.
Um salto na vida, diriam uns. Nunca mais vão voltar, diriam outros. Sem sombra de dúvidas, uma mudança e tanto. Literalmente, um salto no desconhecido.
Apelidada de Pá ou Gudu (para saber mais a origem do apelido Gudu, é só assistir ao filme: Lion, uma jornada para casa, do diretor Garth Davis), ela veio para São Paulo antes de mim.
Na verdade, antes da gente se mudar, ela morava na capital e ficávamos na estrada de fim de semana – dentro de ônibus fedorentos, sujos e sem manutenção adequada, de uma viação que é propriedade de um deputado da região de Serra Negra – para nos encontrarmos.
A verdade é que ficávamos mais tempo na estrada do que juntos.
Ah, o amor!
Que lindo, principalmente no início.
Como eu já disse, em agosto de 2019, a Pá foi contratada para trabalhar em uma empresa em Sampa e ficou um tempo hospedada na casa do Vitor, seu irmão, até que encontrássemos um lugar para morar.
Entre idas e vindas, conseguimos encontrar um apartamento perto da casa do Vitor e nos mudamos de vez no final de outubro ou começo de novembro, não me lembro ao certo.
Como produtor de conteúdo da área da saúde, eu fazia meus horários, como todo e qualquer freela (mas com contrato) autônomo deste mundão.
Porém, quando cheguei por aqui, tive que trabalhar alocado com um cliente antigo para garantir uma grana extra, e deixava para cuidar de outros clientes à noite.
Foi assim, de novembro a janeiro, em uma jornada tripla.
Acordava cedo, ia para a academia, voltava para casa, tomava banho, ia trabalhar, voltava para casa e trabalhava de novo, enquanto a Pá encarava duas linhas do metrô, uma de trem e um minifretado para chegar no trabalho dela.
“A vida na capital é glamourosa! Você vai adorar!”, a galera dizia.
Minha sorte era poder ir e voltar a pé do trabalho. Já a Pá não tinha essa sorte, pois eram três horas por dia literalmente perdidas para ir e voltar.
São Paulo é a porra de uma ilusão, mas muita gente ainda insiste em não acreditar nisso.
E assim a vida foi seguindo até que, em dezembro, começou um burburinho de que um novo tipo de coronavírus havia surgido na China, mas aparentemente sem potencial para se alastrar.
Janeiro chegou e, com ele, minha paciência foi embora.
Decidi que ia deixar de trabalhar três turnos e, já que estava em São Paulo, iria tentar unir a nutrição à outra paixão que eu tenho: o esporte a motor.
Assim, parei de trabalhar com meu ex-atual cliente e mantive clientes fixos que poderia atender no prazer do home office – em que já estava há quase seis anos, e seguiria tentando entrar no mundo dos desportos motorizados, como um nutricionista potencializador de performance.
Conversei com uma categoria de monopostos no começo de janeiro. Quem me puxou para a conversa foi o grande Ronaldão – um cara muito gente boa, louco por motos, jornalista que manja da escrita como poucos e que conhece motores como ninguém.
Após uma reunião com os representantes da categoria, tudo se acertou e enfim eu estava dentro!
Poxa, que legal! Estou em São Paulo, a cidade das oportunidades, ou seja, vou conseguir unir minhas paixões e finalmente minha vida irá tomar o rumo que eu quero.
Eu tinha planos de conhecer São Paulo.
Afinal, “está no inferno, abraça o capeta”, diria o velho ditado popular.
Quando me mudei, pensei: Vou aos teatros, parques, restaurantes, pontos turísticos e tudo o mais.
O único lugar que eu consegui ir foi ao Jardim Japonês – que fica dentro do Parque Ibirapuera.
Gudu e eu fomos lá por dois motivos. O primeiro, pelo fato de gostar da cultura oriental – inclusive, tenho uma coleção de dragões – e o segundo, porque Leandro Karnal havia mencionado que ali era um lugar legal de se conhecer, por conta do silêncio e da tranquilidade.
E assim, nos primeiros dias de janeiro, fomos até o Jardim Japonês. Porém, o único problema é que eu cheguei ao Ibirapuera e tive uma dor de barriga, fazendo com que nossa visita fosse encurtada.
Ao menos pude conferir que o banheiro do parque é bem cuidado. Ponto positivo.
Janeiro se passou com notícias de que o vírus vinha correndo rumo ao Ocidente e, no começo de fevereiro, fomos para a praia durante o Carnaval.
Eu, particularmente, não gosto de praia e, para ser sincero, não sei o que as pessoas veem de gostoso em ficar torrando ao sol o dia inteiro, com a bunda cheia de areia.
E depois que você sai do mar, todo aquele sal fica grudado na bunda, ou seja, um horror. Existe gosto para tudo nessa vida.
Enfim... Fomos à praia, desfrutamos do Carnaval e voltamos em uma fatídica terça-feira, debaixo de uma tempestade. Mal imaginávamos que seria o último rolê antes do confinamento.
No dia seguinte à nossa chegada, no dia 26 de fevereiro, foi confirmado o primeiro caso do coronavírus em terras brasileiras.
A bomba estava armada e a explosão foi bem maior do que até os
mais pessimistas poderiam imaginar.
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PS: Em breve teremos um lançamento com o autor na cidade de São Paulo. Fiquem ligados(as).
Legal, Murilo! Vc fez o que comentei : um deguste do seu livro e que nem todas editoras oferecem. É bom! Aguça a vontade de conhecer esse autor.
Boa sorte!