Quem nunca se pegou pensando nos bons momentos da infância e da adolescência?
A icônica pergunta acima é válida tanto para jovens adultos, como para quem ultrapassou as barreiras da considerada (e famigerada) terceira idade.
Entre os bons momentos da infância e da adolescência é possível elencar uma lista de coisas ou situações que têm o poder de nos fazer sorrir, nos emocionar e desejar reviver esses momentos.
Alguns exemplos clássicos:
Determinada brincadeira com os amigos da rua;
Uma velha receita de família feita pela avó;
Um dia gostoso na escola;
Aquele jogo de videogame antigo;
Um passeio com os pais;
A primeira viagem apenas com os amigos.
A lista poderia ser extensa e o simples fato de fazer alguns apontamentos já me deixa nostálgico.
O termo nostalgia foi criado em 1688 pelo médico suíço Johannes Hofer.
Quando “surgiu” a nostalgia foi caracterizada como uma doença relacionada à melancolia.
De acordo com dicionários, a nostalgia é definida como uma tristeza profunda, ou uma saudade triste por causa de alguém ou lembrança de algo que já viveu ou que possuía.
Vou me abrir a você que está me lendo e citar situações nostálgicas das quais usei para montar a lista descrita anteriormente.
Na minha infância costumava andar de bicicleta com amigos da minha rua, me lembro disso com saudosismo, embora não goste de vivenciar os tombos e ralados no asfalto.
Minha avó materna, fazia bolinhos de arroz, mingau de amido de milho com chocolate em pó. Uma tia-avó paterna, fritava pastéis em casa.
É fácil me lembrar de dias específicos e divertidos na escola, assim como jogos antigos em consoles igualmente ultrapassados nos dias de hoje.
Da mesma maneira que tenho memórias de passeios com os pais e viagens só com os amigos.
Com tudo isso em mente, é fácil e possível desejar colocar tudo em prática novamente.
Mas já dizia o velho ditado: querer não é poder!
Reunir os amigos da primeira infância para andar de bicicleta, seria uma tarefa viável nos dias atuais? Certamente não.
Não tenho mais minha avó, tampouco minha tia avó nesse plano. Assim, me restaria colocar em prática suas receitas, que não teriam o mesmo sabor de outrora.
A escola da qual tenho lembranças de dias felizes, mudou de prédio.
Os jogos e consoles antigos só estão disponíveis em emuladores, com jogabilidades e gráficos diferentes,o que não traria de volta a mesma sensação.
E por fim os passeios com os pais e as viagens com os amigos, também não são viáveis de se colocar em prática.
Afinal, não tenho mais meu pai e os amigos da primeira viagem estão espalhados por cidades diferentes, com empregos distintos, companheiros e rotinas únicas.
Assim, vejo a nostalgia como algo bacana e necessário. O tipo de coisa, situação pra deixar o pensamento rolar e concluir: foi legal, bacana, importante para criar experiência. Lembrar de situações e pessoas boas que passaram por nossas vidas e concluir: Pô, valeu demais!
Porém, quando não temos aceitação do presente, a nostalgia pode ser negativa.
Afinal, há quem a considere como algo ruim, uma vez que ela passa a ideia de que o presente pode não ser tão bom.
Analisando friamente, esse viés triste, talvez seja o desejo íntimo de reviver determinada situação.
Contudo, se temos aceitação do presente, a nostalgia vai ser o que realmente deve ser: uma lembrança do que valeu a pena.
Por isso é necessário equilíbrio e tentar colocar em prática uma frase que costumo usar sempre que possível: “Nada é. Tudo está”.
Há ainda um outro viés nisso tudo, mas é preciso estar atento para ele: a nostalgia pode ser utilizada como um estímulo para mudanças de vida em uma série de aspectos (cabendo a cada um de nós avaliarmos e compreender quais mudanças são essas).
E para finalizar essa bagunça toda, é possível parafrasear e concordar com o clube da esquina que em 1972 já cantava:
“Eu já estou com o pé nessa estrada
Qualquer dia a gente se vê
Sei que nada será como antes, amanhã”.
Interessante. o limite entre nostalgia e melancolia diz muito sobre saúde mental. Algumas pessoas são melancólicas pq tem dificuldade de enfrentar mudanças. Tenho um pai super melancólico - o passado é ‘perdido’ e não uma memória contemplativa ou celebrada. Então ele acaba sempre vivendo na ausência dolorosa do que já foi.
Perfeito! Conseguiu, numa abrangência e descontração, trazer um tema que, para muitos, é um questionamento: - Estou nostálgico ou deprimido? É saudade ou carência?