Não, esse não é um texto macabro que visa ganhar cliques, afinal, quando se fala de câncer, muita gente costuma parar para ler (o que é positivo, convenhamos).
O conteúdo de hoje é alarmista e eu já vinha pensando em escrevê-lo há algum tempo.
O que me impulsionou de vez, foi que no mês de maio fiquei sabendo de alguns casos de câncer de pessoas que vivem ao meu redor.
Inclusive, no final de 2021, perdi uma pessoa que considerava da família, vítima de cancro.
Assim, a seguir, vou tentar dissertar da melhor forma possível sobre uma doença que coloca medo em muita gente e que pode surgir de diferentes maneiras.
Em 2017, quando eu ainda acreditava que o LinkedIn poderia me ajudar a arrumar um emprego, eu escrevi um artigo sobre câncer, dizendo que a doença muitas vezes era fruto de um mero azar.
Mas, o que é o câncer, afinal? Você já parou pra se perguntar?
Para falarmos sobre ele, precisamos falar sobre biologia.
Todo ser humano é um verdadeiro emaranhado de células.
Somos um literal agrupamento celular.
Enquanto você lê essa newsletter, milhares delas estão morrendo, se renovando através do processo de divisão celular.
O câncer, temida doença, é um processo de divisão celular que deu errado. Seja simplesmente por azar (sim, acontece, igual falei sobre sorte em outro texto, lembra? o azar também existe), ou por algum motivo social ou ambiental (exposição à radiação, você gostar de fumar, se alimentar mal, viver numa cidade poluída, enfim).
A Europa já sinaliza que deve enfrentar uma epidemia da doença (em diferentes esferas) na próxima década.
Em todo o mundo, casos da doença em pessoas com menos de 50 anos têm se tornado cada vez mais comuns. Infelizmente.
E no Brasil? Aqui não vai ser diferente!
E sem complexo de vira-latas, tá? Eu creio que em terras tupiniquins, a coisa tende a ser pior e vou explicar o motivo disso logo adiante.
A começar pelo que diz o INCA - Instituto Nacional do Câncer, que que divulgou que as estimativas de novos casos por aqui até 2025 devem ultrapassar os dois milhões de casos.
Em meu círculo de amizade, me chamam de pessimista há alguns anos.
Eu refuto, dizendo que sou apenas realista, mas a galera insiste em não ouvir. Por isso, sigamos com meu realismo em tom pessimista dando a mão no que vai vir a seguir.
(Além do azar) O câncer é considerado uma doença multifatorial, ou seja, que precisa de uma série de fatores para surgir e se desenvolver.
Entre os fatores clássicos citados a rodo, podemos repetir: alimentação rica em alimentos ultraprocessados, uso desenfreado de agrotóxicos, consumo exacerbado de álcool, sedentarismo, sobrepeso/obesidade, tabagismo, poluição e por aí vai.
Levando em conta os fatores já deu pra sentir o drama, não é mesmo?
Vou começar pela principal área que me cabe, a de alimentação!
Estudo fresquinho de 2023 mostrou que o consumo de alimentos ultraprocessados eleva o risco de desenvolver 34 tipos de câncer.
A essa altura do campeonato, todo mundo já sabe que o consumo excessivo de tranqueiras não faz bem para saúde (até mesmo o coach sem formação na área sabe).
Isso nos leva rapidamente a outro ponto crítico, o dos agrotóxicos.
Como nutricionista, já ouvi de um paciente que ele preferia comer ultraprocessados do que verduras e legumes, alegando que nos alimentos industrializados não havia agrotóxico.
Segundo o paciente sabe-tudo, apenas agrotóxicos causam câncer.
Contestei, dizendo que muitos alimentos industrializados, inclusive os preferidos da galera, como é o caso dos nuggets, salsicha, requeijão e até mesmo papinha de bebês já contêm agrotóxicos em sua composição.
Ele não gostou muito, mas consentiu.
Aqui a gente entra em um problema não tão novo, que é o consumo de agrotóxicos.
O Brasil é hoje o país que mais consome agrotóxicos no planeta. E mais, somos o principal destino de pesticidas barrados no exterior.
Desde o ano de 2009, o Brasil é líder isolado no consumo desse tipo de produto.
Em média, cada brasileiro consome 5,5 quilos de “veneno” anualmente.
Os estudos são unânimes em afirmar que o contato e o consequente consumo de alimentos ricos em pesticidas possuem uma relação íntima com o surgimento de câncer.
Seguindo ainda o que me diz respeito como nutricionista, é possível citar a questão de sedentarismo, sobrepeso e obesidade.
Estudos demonstram que esse “estilo de vida” está relacionado a nada menos que o surgimento e desenvolvimento de 13 tipos de câncer.
O Brasil é hoje um dos países que mais consomem alimentos ultraprocessados no mundo.
De acordo com levantamento da Revista de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), na última década o consumo de “alimentos” dessa natureza cresceu 5,5%, dado pelas dificuldades financeiras e crises econômicas que insistem em nos atormentar.
Ainda falando dos ultraprocessados, pesquisadores(as) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Universidade de São Paulo (USP), da Fiocruz e da Universidad de Santiago de Chile realizaram um levantamento de dados relacionados ao consumo de ultraprocessados. Somente no Brasil, estima-se que eles podem causar a morte prematura de 57 mil pessoas por ano.
O consumo excessivo de ultraprocessados, aliado ao estilo de vida sedentário, leva ao sobrepeso e obesidade.
Segundo dados da OMS, 47% dos brasileiros são sedentários, o que coloca o país nas primeiras posições do ranking de sedentarismo da América Latina.
Mas ainda tem mais (calma, respira) de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS, 2020), atualmente mais da metade dos adultos brasileiros apresentam excesso de peso (60,3%).
Já a condição de obesidade atinge 25,9% da população. O cenário não é animador, convenhamos.
Ufa… chega de dados!
E o que diz a rotina do nutricionista?
Tirando os fatores que dizem respeito aos nutricionistas que citei acima, sobram ainda álcool (para o qual não existem níveis seguros de consumo), o tabagismo e a poluição.
Quero falar agora do mundo na prática. A teoria é importante? Sim, mas sem praticar, ela se perde.
Participo de alguns grupos de nutricionistas em aplicativos de mensagem, vou a congressos todos os anos e tenho contato constante com alguns médicos.
A realidade sobre o crescimento de casos de câncer é unânime e representa um verdadeiro desafio aos sistemas de saúde público e privado já a médio prazo.
A boa notícia é que a prevenção é simples.
Ela passa pela adoção de políticas públicas voltadas ao bem-estar da população, mas que hoje estão longe disso (ainda uma utopia minha).
Além disso, há a necessidade do autocuidado.
Peço licença para bancar o profissional da saúde chato e mandão para repetir a seguinte frase:
“Quem não encontra tempo pra cuidar da saúde, uma hora vai ter que arrumar tempo para cuidar da doença”.
Comer comida de verdade, buscar pequenos produtores orgânicos, praticar uma atividade física que lhe dê prazer (não precisa ser apenas academia), ainda estão entre as principais formas de se prevenir o câncer.
Falando de forma direta, sem mais delongas: se cada um fizer sua parte (governo e população), é possível amenizar o problema.
Real? Consegue-se, num mundo de hoje, alimentação sadia, controle emocional e não consumo de álcool? Creio que a incidência desses fatores é tão grande que, num plagio, mesmo tendo "cuidar da saúde, pra não ter que cuidar da doença" somos vítimas de uma produção sem controle estatal nem tampouco social.