A minha atual situação bem como a do mundo ao meu redor, tem me feito pensar e repensar uma série de situações e condições, e hoje durante uma caminhada com minhas cachorras, me peguei perguntando: Será que a sorte existe?
Em um mundo conectado, onde as aparências valem mais que a realidade, muitos afirmam que basta trabalhar duro para conquistar a própria sorte. Papinho de coach motivacional, na minha humilde opinião.
Contudo, antes de irmos além no assunto, vamos nos debruçar sobre o conceito da sorte:
No dicionário (sim, eu ainda uso o dicionário), sorte é substantivo que pode significar destino, fado (não o português) ou então, um acontecimento, que vejam só, pode ser bom ou mau.
Indo um pouco mais além, e embarcando na questão filosófica, a sorte é resultado da causalidade, um mero fenômeno impossível de prever ou de se explicar.
Agora vamos à ciência.
De acordo com Richard Wiseman, um psicólogo britânico que “estudou” o fenômeno, comprovou que, sim! A sorte existe, e mais do que isso, passível de interferência por nossa parte.
De acordo com Wiseman (e de outros coaches influenciadores que só influenciam quem tem cabeça fraca) é preciso se “mexer” para a sorte aparecer.
O psicólogo britânico afirma que a sorte aparece apenas para quem se arrisca e ainda vai além:
É preciso ouvir um “sexto sentido”, seguir os “sinais que o coração dá” e por fim, completa que a pessoa precisa acreditar que é sortuda.
Reparou nas aspas acima, não é mesmo?
Pois bem, analisando então, o único ponto de vista científico que encontrei, eu particularmente não consigo acreditar muito nesse tipo de sorte.
Pesquisei, inclusive em bases científicas, como o Pubmed, sobre sorte e não achei nada relevante por lá.
Para mim (e isso vale apenas para minha pessoa, mesmo), Wiseman fala como um charlatão.
Basta dizer para mim mesmo: sou sortudo, sei que sou, vou jogar na loteria, ficar rico e nunca mais vou precisar trabalhar.
Ou então, é possível ir além, vou seguir meu coração e me candidatar a essa vaga de emprego e conseguir um trabalho.
Se fosse assim, todo mundo era sortudo!
E aqui cabe um parêntese gigante: uma pessoa que vive hoje em um país que é zona de guerra, ou não tem o que comer, ou não tem emprego tem azar?
Eu acho que sim, sorte existe, embora acredite que ela não tem tanta relação com esforço, mas sim causalidade.
Vamos num exemplo clássico: há dois candidatos para uma vaga de emprego, mesma formação, mesmo tempo de experiência (é só um exemplo, tá?). Logo, como a vaga é única, apenas um vai ser escolhido.
A pessoa que consegue a vaga é sortuda? A que não consegue é azarada? E se tivessem agido como Wiseman disse pra agir?
Quando as pessoas conseguem algo bacana, o organismo libera dopamina.
A dopamina é, na verdade, um neurotransmissor, que é responsável por levar informações do cérebro para diferentes partes do corpo.
A substância também é conhecida como um dos hormônios da felicidade, uma vez que causa sensação de prazer e satisfação, além de aumentar a motivação.
Então, quando atingimos um objetivo que queremos muito, estamos com dopamina até o talo, é possível que gritemos: Pô, que sorte eu tenho!
Nesse caso, não foi sorte, mas trabalho.
E inclusive, esse trabalho pode ter tido uma série de tentativas, até que o êxito fosse alcançado.
Na atual sociedade em que vivemos, é muito comum alguém que ralou pacas ouvir no final: você teve sorte.
Isso pode ser um problema.
Nesse caso, a pessoal/sociedade enxerga os esforços como um mero golpe do destino (ah, isso não é válido para herdeiros, ok? nesse caso não é sorte, nem meritocracia, é só herança, mesmo. Mais ou menos como sua família ter uma mina de esmeraldas e você ter dinheiro para comprar uma rede social).
Dizer que uma pessoa teve sorte, desconsiderando esforço e competência é complicado e pode ser visto como falta de capacidade própria. Embora eu mesmo não concorde com isso.
Há quem diga que existem pessoas com sorte, como forma de aplacar ou até mesmo aceitar seus fracassos para se dizer vítima do azar.
Essa é uma linha tênue e complicada, que inclusive merecia um debate mais profundo, mas feito por especialistas.
Do meu ponto de vista, o conceito de sorte ignora a racionalidade.
Há quem diga que sorte é destino, mas acreditar em destino também não é racional.
E por fim, eu não desejo sorte a você que está lendo esse artigo.
Mas sim, reflexão, senso crítico e capacidade de aceitar que sorte sim, existe, contudo ela surge em níveis diferentes para variadas pessoas.
E por mais que a música do Skank diga: “Se a sorte lhe sorrir, por que não sorrir de volta?” eu aceito de bom grado que, ultimamente ela não tem sorrido muito para mim.
Esgotou, explorarando diferentes análises, a possibilidade de ser questionada sua tese. E, segundo afirmou, concordo que afirmar que foi sorte é uma forma que muitos usam porque preferem a " zona de conforto" do que se arriscar.