Vivemos rodeados por mentiras ou por um positivismo tóxico exacerbado nos últimos tempos.
“Não aceite menos do que você merece; só existe uma maneira de alcançar o que deseja: trabalhar duro até alcançar”.
Esses são alguns exemplos de frases às quais muitas pessoas são expostas todos os dias.
Só que eu e muito provavelmente você, que está me lendo sabe que isso não é verdade.
A grande questão nisso tudo, é o fato de que está impregnado em nossa cultura de que desistir é para os fracos.
Tenha foco, seja resiliente, persista… no final, você será recompensado(a)!
Mentira, né?
Todo mundo tem um desejo interno, seja ele profissional ou pessoal.
Assim, de forma consciente ou inconsciente, passamos a perseguí-lo e é natural que no caminho encontramos desafios das mais diversas naturezas com os quais temos que lidar.
Mas e se houver muitos desafios?
E se o desafio for muito grande?
Será que vale a pena enfrentá-lo?
Todas as pessoas têm um limite de aceitação, tolerância e compreensão com base em experiências já vividas.
Quem nunca desistiu de algo, que atire a primeira pedra.
Seja de um relacionamento ou de alguma situação voltada à profissão.
Há algum tempo, eu desejava atuar em uma área específica de minha formação, na qual nunca tinha visto ninguém atuar.
Investi tempo e dinheiro em estudos, criei conteúdos dos mais diversos tipos, fiz network. Tentei durante um longo período ingressar nessa determinada área.
Recebi diversas negativas e nos contatos que eram positivos, o que era me oferecido em troca: permutas ou gratuidade como forma de mostrar que meu serviço funcionava.
Depois de algum tempo, entendi que o que eu desejava não era viável, afinal não conseguiria pagar boletos com permutas ou trabalhando de graça. Assim optei pela desistência.
Os fiscais do sucesso alheio que me perdoem. Mas eu não consigo concordar com a ditadura do nunca desistir.
Ok, é ( ou pode ser) verdade que vencedores em sua área nunca desistiram, mas precisamos lembrar que pessoas que tiveram burnout por estresse também haviam optado por não parar.
A vida hoje é uma competição desenfreada e desigual.
Há muita gente por aí que não vive e sim sobrevive, assim é nobre entender que para muitos desistir “até pode não ser uma opção”.
Contudo, acredito ser importante parte do processo a compreensão de que a vida é cíclica.
Enquanto eu posso estar em um momento de criação, você que me lê pode estar pensando em renovação, e um(a) terceiro(a) em momento de finalização.
Isso é real. é um fato!
Sempre que optamos por desistir de algo, independente do que seja, a gente se dá a chance de começar de novo.
E esse novo começo pode trazer consigo inovações, vivências, contatos e consequentemente sucessos inimagináveis se a rota original tivesse sido mantida.
Em suma: desistir não é o oposto de ter sucesso, mas sim uma parte essencial de um propósito.
Na vida pessoal ou no mundo dos negócios, é comum que o caminho para frente envolve dar passos para trás, para o lado ou simplesmente parar, avaliar e escolher uma nova rota.
A não ser que estejamos falando de um projeto problemático (esse, inclusive pode ser um tema para outro texto).
Em muitas situações, a desistência pode ser poderosa.
Afinal, desistir sempre vai ser o começo de algo novo, que - sem nenhum tipo de clichê ou positividade tóxica - pode ser ainda melhor que o esperado inicialmente.
Temos uma ideia torta sobre o que é desistir. Somos múltiplos, a vida pulsa todo o tempo. como seria possível perseguir uma única meta por tanto tempo, se é na jornada que nos descobrimos? Desistimos inclusive do amor; na verdade não dele como sentimento, mas do que fazemos dele na narrativa que criamos. Por isso tantas pessoas sofrem - se agarram na expectativa de um final que criaram, sem não perceber as mudanças que acontecem diariamente dentro de si
É clichê! Só quem vive é que sabe a hora de reiniciar, de desistir...Acredite! Tive muitas vitórias, reconhecimento e até amores... e também vontade de não continuar. Gostei da sua abordagem, pois você consegue fugir de uma retórica e dialoga.