Dizer adeus a algo ou a alguém pode ser tarefa complicada, triste, dolorosa, envolta em lágrimas. Mas isso depende, claro, do contexto.
Se livrar de um emprego ruim, onde havia exploração exacerbada, por exemplo, pode ser bom.
Agora, perder aquele ente querido, com o qual você viveu bons momentos, certamente é uma das despedidas mais dolorosas que existem.
Mas e se despedir de uma banda?
“Bandas são eternas”, você pode dizer.
Sim, de fato são eternas, uma vez que há álbuns e clipes gravados, assim como músicas disponíveis em plataformas de streaming, Youtube e por aí vai.
Quantas bandas já “acabaram” sem deixar propriamente de existirem? Muitas.
Ouvir sua banda favorita por meio de equipamentos, como rádios, computadores ou celulares é uma coisa totalmente diferente de ir a um show.
Acompanhar (e cantarolar) as músicas no conforto do seu carro, enquanto pratica atividades físicas, trabalha ou simplesmente não faz nada, são situações opostas a de um espetáculo ao vivo, onde você canta, para não dizer, grita canções a plenos pulmões, pula, dança e até mesmo chora, com os acordes da sua composição favorita.
Foi esse mix de sensações que eu senti no último sábado, 18 de março, do ano de 2023, durante o último show da minha banda favorita. O Skank.
Minha relação com as músicas e os shows da banda é muito peculiar.
Lembro de ter ganho uma fita K7 da banda, quando eu era uma criança.
Embora não consiga precisar a data, é fácil recordar uma figura muito maluca:
Um homem, com olhos de fundo de garrafa, nariz, cabelo e ouvidos cobertos com penduricalhos, verde e amarelo junto a uma palavra desconhecida pra mim: Calango.
Apenas mais tarde, já adulto, fui descobrir que se tratava do baixista, Lelo Zaneti, a quem apelidei - para mim mesmo, de Neville Longbottom, personagem dos livros de Harry Potter, devido à (óbvia) semelhança de ambos.
A partir daí, passei a acompanhar a banda mais assiduamente.
Outros álbuns vieram.
O samba poconé, Siderado, Maquinarama, MTV ao vivo em Ouro Preto, Cosmotron, Radiola, Carrossel, Estandarte, Mineirão, 91 e Velocia.
Na humilde opinião, deste fã que vos fala, de Siderado à Estandarte há muita qualidade em termos de composição e harmonia. Cosmotron, talvez, seja o melhor.
De todos os álbuns que ouvi (da banda e outros) foi o único do qual gostei 100% das canções.
Passei a trabalhar de maneira precoce, o que me deu certo poder aquisitivo para comprar CDs e DVDs. Tenho todos, embora hoje não disponha de equipamentos para reproduzi-los.
Hoje ouço e assisto a banda via Spotify e Youtube.
A outra parte da relação com a banda, ou seja, os shows foi um pouco mais complicada, por minha parte, é claro.
Nasci, cresci e passei a maior parte da minha vida no interior de SP.
Embora a banda mineira fez e ainda faz sucesso em todo o país, quase nunca vieram tocar perto de mim.
Minha condição financeira na adolescência e início da idade adulta, não me permitiu ir a muitas apresentações.
A vida foi passando, as condições melhoraram, mas hoje, perto de completar trinta e cinco anos, me encontrei com o Skank apenas cinco vezes.
Numeral que considero baixo. Enfim…
No último sábado, tive a oportunidade de ir ao meu quinto e último show para me encontrar pela última vez com Samuel, Henrique, Lelo e Haroldo, além dos músicos que acompanharam a banda em pouco mais de três décadas.
Gostaria de agradecê-los.
Se pudesse, gostaria também de abraçá-los e dizer: Obrigado, vocês me influenciaram, musicalmente falando.
Não só vocês, mas compositores como Nando Reis, Chico Amaral, Arnaldo Antunes, Lô Borges, Rodrigo Leão e outros que compuseram canções tocadas e cantadas pela banda.
Por conta de vocês, passei a ouvir gigantes musicais do Brasil e do mundo, que vão além dos que citei anteriormente.
Oásis, Bob Dylan, Beatles, Erasmo Carlos, são alguns exemplos clássicos que acompanham o skank na minha playlist, que faço questão de deixar no aleatório, para que eu possa ser agraciado com canções de todos.
E diferente de quase tudo que acaba, bandas não acabam.
De certo modo, assim como pintores, escritores e músicos solitários elas são eternas.
E é isso que o Skank será para mim.
Foi bom demais acompanhar esse adeus com você!